quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Há Vinte Anos... Cavalos mais rápidos...

Faz pouco menos de vinte anos, mais precisamente era o ano de 1990, e eu trabalhava no Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Havia me formado há pouco tempo e já estava novamente assistindo aulas, desta vez no curso de Mestrado em Ciência da Computação, com especialização em Inteligência Artificial (IA).

Este período da minha vida me traz boas recordações. Era uma vida mais tranquila. Além da ausência dos compromissos financeiros que viria a assumir nos anos seguintes, ainda viviamos muito bem obrigado sem a Internet e, inacreditável, também sem celular. A comunicação era mais “lenta” e seguia protocolos diferentes dos atuais. Um carro enguiçado, por exemplo, nos obrigava a chamar o Touring Club do Brasil, que demorava algo como umas 4 ou 5 horas para chegar ao local... Definitivamente, outros tempos...

Um dos pontos que mais me marcou naquela época foi a chegada dos primeiros (poucos) microcomputadores com disco rígido ao NCE. Foi um acontecimento único e definitivamente abriu novas portas nas pesquisas que condiziamos em IA no NCE e na COPPE. Agora sim, com um disco de 5MB (isso mesmo, cinco megabytes) e um sistema operacional que gerenciava 640k de memória RAM, era possível utilizar softwares muito mais sofisticados e trabalhar com os complexos e sofisticados algorítmos que nossos projetos demandavam.

Vinte anos depois e a impressão que tenho é que vivemos “no futuro”. A disponibilidade da Internet em banda larga cresce rapidamente, os celulares já são os dispositivos mais vendidos do mundo e, em muitos países, já tém um número de usuários maior do que o de linhas fixas. A comunicação segue outros protocolos e mesmo nossos filhos, com menos de 5 anos de idade, já “conversam” com facilidade usando simples programas para “chat on line”, email e comunidades.

Como será o mundo dentro de 20 anos...?

Recentemente li “The Big Switch”, de Nicholas Karr (1). Um escritor controverso porém de uma clareza absolutamente brilhante. Segundo ele, em mais 5 ou 10 anos já teremos a nossa disposição as primeiras interfaces cérebro-máquina. E isso está longe de ser uma opinião somente dele. Os fundadores da Google, Larry Page e Sergey Brin, pensam da mesma forma e, pasmem, já estariam trabalhando na busca a este objetivo...

Abrindo a edição de novembro da Scientific American sou surpreendido pela matéria principal “Jacking into the brain”. As propostas e idéias são literalmente “radicais” e, se chegarmos ao menos perto delas, teramos dado passos muito largos para um mundo completamente novo.

A idéia é complexa para os padrões de hoje e bem desafiadora. Basicamente, seria possível, de alguma forma, mapear os sinais elétricos de nosso cérebro e transformá-los em comandos para o computador. Um dos modelos mais promissores é aquele que se baseia em “implantes neurais”... algo que hoje aparentemente é ficção científica em poucos anos pode se tornar realidade.

Impossível não pensar no “robô” HAL (2), do filme 2001 Uma Odisséia no Espaço, de 1968, dirigido por Stanley Kubrick. O filme foi um marco na ficção científica e apresentava um cenário totalmente insólito e, para a época, algo provavelmente muito distante. O robô, criação humana, aprendeu a pensar e controlava tudo... Será que estamos neste caminho?

Segundo os fundadores da Google, é um futuro bem provável. Conectar computadores aos nossos cérebros pode trazer enormes benefícios para a humanidade. Primeiramente, os benefícios médicos, para aqueles que sofrem de doenças degenerativas e que não conseguem nem mesmo se comunicar. Esta tecnologia abriria inúmeras portas para eles. Depois, para todos nós... neste momento é quase que impossível imaginar todos os benefícios que poderiamos ter...

A Inovação abre caminhos a cada dia, caminhos completamente novos e desconhecidos, que nos levarão para lugares que não podemos imaginar hoje. Henry Ford, certa vez, foi questionado em uma entrevista se havia feito uma pesquisa com seus potenciais clientes sobre o interesse em carros... sua resposta? “Se tivesse perguntado a eles muito provavelmente me teriam dito que queriam apenas cavalos mais rápidos”.

(1) http://fgfmendes.blogspot.com/2008/09/big-switch-from-edison-to-google.html
(2) Por coincidência ou não ou nome HAL é formado pelas letras imediatamente anteriores, no alfabeto, as que compoem a sigla da IBM .

sábado, 1 de novembro de 2008

SaaS - Lotus Bluehouse - Parte 1

A definição mais comum para Software as s Service (SaaS) aponta para um modelo de utilização de software onde o mesmo está hospedado em um computador em um lugar qualquer e suas funcionalidades são "entregues" ou "consumidas" pelo usuário final no formato de um serviço, através da Internet. Um leitura comum para esta definição é a de que você "paga por aquilo que consome". Definitivamente não é uma definição completa, ao deixar de fora uma série de pontos importantes.

Dentre os pontos mais significativos temos, por exemplo,:
  1. O usuário final deixa de se preocupar com a aquisição e manutenção da infraestrutura de hardware para suportar o software
  2. O usuário final deixa de se preocupar com a manutenção das versões do software
  3. O cliente passa a utilizar seu orçamento de TI de forma diferenciada, fazendo investimentos em projetos mais ligados ao objetivo final da empresa
  4. O cliente final pode ratear os custos do uso do serviço de forma mais efetiva, da mesma forma que se rateia uma conta de luz ou de água por diversas unidades ou departamentos da empresa
Porém, de todos estes pontos, o mais revolucionário não está no cliente final, e nem na Internet. Acredito que o componente mais importante deste novo modelo está na outra ponta, nas empresas que hoje desenvolvem software e naquelas que vão entrar para o clube. Estas empresas tem o desafio e a missão de oferecer novas soluções que possam ser consumidas por seus clientes.

O modelo é tão revolucionário que todas as empresas estão investindo fortunas em pesquisa e desenvolvimento. O objetivo de todas é ter suas soluções oferecidas neste novo modelo o mais rapidamente possível. Como vimos anteriormente (1), no entanto, muitas empresas estão simplesmente adaptando suas soluções para este novo modelo.

Lotus Bluehouse

Neste cenário, a IBM vem se destacando. No início do ano, na Lotusphere 2008, anunciou o Lotus Bluehouse (2) como a sua plataforma para oferecer software como serviços, principalmente aqueles relacionados com colaboração e redes sociais(2) que, notadamente vem migrando para o ambiente web a passos largos. É um movimento forte para se posicionar neste novo segmento de mercado, onde já estão a Google, a Microsoft e outras mais.

A grande diferença do Bluehouse para as ofertas hoje disponíveis destas empresas é o fato de ter sido construido desde o início para ser oferecido como um serviço. Como dissemos anteriormente (1), poucas empresas podem dizer que efetitamente oferecem uma solução nativa para SaaS. A IBM é uma delas e o Bluehouse vem para ocupar este espaço.

O Lotus Blouhouse é uma solução para mensageria, comunicação, colaboração, compartilhamento de arquivos, web conference e redes sociais. O projeto é ambicioso, começa com um punhado de serviços já bastante interessantes e promete crescer absurdamente nos próximos anos. Espera-se integração com telefonia convencional, VoIP, ERPs, alta mobilidade, independência de plataforma, suporte a padrões abertos e muito mais.

Se entregar tudo o que promete pode revolucionar o mundo de sofware como o conhecemos hoje, principalmente, é claro, o mundo do desktop, dependente de alguns poucos fornecedores, extremamente vulnerável e com pouca ou nenhuma mobilidade.

No próximo post, uma análise mais detalhada do Lotus Bluehouse.

(1) http://fgfmendes.blogspot.com/2008/10/are-you-native-saas-company.html
(2) http://www.eweek.com/c/a/Messaging-and-Collaboration/IBM-is-Closer-to-Building-Bluehouse-to-Compete-With-Cisco-Google-Microsoft/