sábado, 21 de setembro de 2013

A Viagem Social


Nas últimas quatro semanas vivi uma experiência realmente única, tanto profissional como pessoal. Participei do IBM Corporate Sercices Corp, uma designação internacional da IBM, na cidade de Yin Chuan, no interior da China. Foram semanas extremamente ricas, durante as quais convivi com profissionais da IBM de 7 países diferentes, com um cliente Chines buscando por recomendações para crescer nos mercados doméstico e internacional e compartilhando de uma cultura milenar, de uma história fantástica. Além de tudo isso, experimentei a força das redes sociais, tanto as que estamos acostumados a utilizar como as que são usadas na China, já assunto de outros posts. Desta vez, compartilho alguns pensamentos sobre o poder das redes sociais e sua influência em nossa vida, como em uma viagem como essa, longe da família e de amigos por mais de 30 dias. Meu foco principal será no que vou chamar de "três dimensões": distância, companhia e memórias.

Distância

Mais de duas décadas se passaram desde a última vez em que estive longe da minha família e dos amigos por tanto tempo. Estavamos no meio da década de 80 quando trabalhei na Siemens em Munique por três longos meses. Lembrando daquele longínquo inverno alemão, me recordo que tinha a nítida impressão de que estava muito longe de casa, literalmente em outro país, em outro continente. A distância se traduzia em duas semanas, que era o tempo necessário para um cartão postal chegar no Brasil. Quando o destinatário as lia, já não eram mais frescas, nem eram mais notícias, apenas registros de algo que havia acontecido há duas semanas. Exatamente por isso, a forma como as cartas eram escritas era diferente. Não diziamos "acabei de chegar da mesquita da cidade" ou "vejam só que dia lindo está fazendo em Munique"... isso não faria muito sentido para os destinatários.

Na China, compartilhava momentos instantaneamente utilizando o Instagram e, quando chegava ao hotel à noite, uma das primeiras coisas que fazia era atualizar o Facebook. A distância havia se reduzido de duas semanas para apenas alguns minutos ou, no pior dos casos, algumas horas. Os principais fatos do dia, fotografias, momentos, eram compartilhados quase que em tempo real. Era como se todos estivessemos viajando juntos. Era como se o estado de Ninxia, próximo a Mongólia Interior, ao sul da Mongólia, fosse a alguns kilômetros do Rio de Janeiro e não tão distante como parecia no jogo de War.

Toda esta tecnologia, transparente para todos, fez com que Yin Chuan se parecesse com um bairro do Rio de Janeiro.

Companhia

Na alemanha, apesar da companhia dos amigos que fiz, vivia sozinho. Não havia como me comunicar facilmente nem com eles nem com minha família e amigos no Brasil pois os telefones celulares ainda eram sonhos de laboratório ou assuntos para filmes de ficção científica. Usava muito o telefone público, que custava 5 marcos alemães por minuto e me obrigava a carregar muitas moedas cada vez que desejava fazer uma ligação de 5 ou 10 minutos. Era muito ruim chegar ao quarto, a noite, pois não havia muito o que fazer. Para diminuir a solidão, escrevia cartas e cartões postais, que demorariam muito para chegar ao Brasil, ou lia livros que havia levado comigo

Em Yin Chuan, a impressão que tive é que todos estavam muito próximos e isso ajudou muito para que o tempo passasse tão rapidamente. Conversava com amigos e com a família pelo menos duas ou três vezes ao dia e os sentia próximos, muito próximos. Para mim, era como se estivessem compartilhando de tudo o que eu vivia, tal a facilidade com que nos comunicavamos. Compartilhava pelo Facebook momentos viviidos durante o dia e recebia cada comentário com tanta alegria que parecia que estava conversando com alguem. Eu tinha companhia mesmo quando estava em meu quarto, sozinho. 

Além disso, tecnologias de comunicação baseadas em IP, como o Skype, me permitiam falar a qualquer hora, com qualquer pessoa, com vídeo, a custo zero.

As redes sociais tem o poder de reduzir distâncias e de aproximar pessoas. Algo inimaginável há apenas 5 anos.

Memórias

AInda guardo com carinho cartas, cartões postais, bilhetes e anotações daquela viagem a alemanha em 1986. São papeis, hoje amarelados, onde experiências pessoais e profissionais eram anotadas com todo cuidado. Dizem que "recordar é viver" e, cada vez que as vejo, lembro muito daqueles dias, dos momentos vividos longe de casa. Esta é uma grande verdade, realmente "recordar é viver"..

Fico imaginando como me recordarei desta viagem daquia a vinte anos. Será que o Facebook ainda vai existir? Veremos "páginas online amareladas"? Onde estarão todos estes momentos que foram compartilhados com tanto carinho? Em fotos digitais? Hoje não consigo ler um disquete de 5 1/4 polegadas que foi gravado há 15 anos. Será que teremos acesso a todas estas memórias daqui há 10 ou 15 anos?

Difícil dizer, muito complicado fazer previsões, "principalmente sobre o futuro", mas algo é certo. Nunca mais chegaremos em casa e ouviremos uma pergunta como essa: 

"Como foi a viagem, pai? Conta tudo!"

Como assim, você não viu o que eu coloquei no Facebook?

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