"The more I dig into his secrets, the deeper he'll bury them...". Esta frase poderia ter sido dita por qualquer mãe brasileira preocupada com a vida de seu filho e reflete uma das principais questões feitas por pais diariamente. Afinal, pais devem ou não fazer parte das redes sociais de seus filhos? Devem ou não espionar seus filhos navegando por suas contas em redes sociais? A frase partiu de uma mãe preocupada com seu filho, ambos chineses, moradores de Beijing e faz parte de uma matéria publicada no jornal "China Daily" tratando sobre a mesma preocupação que temos no nosso dia-a-dia.
Como vimos nos últimos posts (Redes Sociais na China, Parte 1 e Redes Sociais na China, Parte 2), a vida nas redes sociais na China é intensa, com centenas de milhões de pessoas compartilhando momentos, fotos e pensamentos, junto com angústias, preocupações e devaneios.
No entanto, na China, a educação é ainda muito conservadora e os mais jovens são orientados, desde cedo, a acatar a ascendência dos pais sobre os filhos e a ficar calados na presença dos parentes mais velhos. Além disso, a grande maioria das famílias tem apenas um filho e os pais dedicam enorme esforço para a educação dos mesmos. A separação, quando os filhos vão estudar em outras cidades ou trabalhar fora, é dura e as redes sociais são um elo cada vez mais explorado. E, neste cenário, o choque entre as gerações mais novas e seus pais é simplesmente inevitável.
Os Milleliums Chineses
A nova geração de milleniums chineses, por exemplo, é ávida usuária do WeChat, (já são mais de 300 milhões de usuários deste aplicativo) e compartilha sua vida pessoal com seus amigos abertamente. Mais e mais pais tem encontrado, nas redes sociais, a forma de estar mais próximos de seus filhos. No entanto, muitos não se sentem confortáveis ao saber que seus pais espionam suas vidas e acabam mudando seu comportamento. "Now I just don't post things she doesn't want to see or things I don't want her to see", disse um dos jovens entrevistados.
Especialistas afirmam que a qualidade do relacionamento online entre pais e filhos reflete o mundo real. Ou seja, quanto mais aberta é a relação no dia-a-dia, melhor serão as interações nas redes sociais. Quando praticamente não existe diálogo entre pais e filhos sobre preocupações e desafios da vida, menos provável que no mundo online eles sejam realmente "amigos". "Alguns pais acreditam que o simples fato de serem pais lhes dá o direito de espionar seus filhos online", disse um psicologo da Beijing United Hospital and Clinics... "Por que não desenvolver a confiança no relacionamento com os filhos desde o início?".
Os jovens chineses tem adotado várias técnicas para sair da "saia justa" de recusar um convite de amizade vindo de seus pais. Uma das mais comuns é criar um perfil somente para a família e compartilhar assuntos triviais, que não criam conflitos.
O que os especialistas dizem a respeito do relacionamento entre pais e filhos online? Vejam alguns comentários:
- Mantenha limites - Esteja presente mas não seja exageradamente intrusivo. Existem limites para os comentários e para a publicação de fotos - Sarah Coine, professora associada, Brigham Young University
- Use com moderação - As redes sociais são uma boa forma de manter contato, mas lembre-se das outras formas de interação presenciais - Zhang Zhongshan, professor senior, Songjiang Teacher's Training College
- Respeite o espaço de seus filhos - O melhor presente que podemos dar a nossos filhos é a capacidade de pensamento crítico e e de fazer julgamentos por conta própria. Não vamos ensinar isto mantendo-os sob controle o tempo todo. Deixe-os experimentar e entender as implicações de cada movimento - Pamela Brown, diretora, Media Psycnology Resarch Center
- Não espione mensagens privadas - Deixe que eles tenham seus espaços e os respeite - Rob Blinn, psicologista clínico, Beijing United Hospital and Clinics
- Demonstre amor e carinho ao mesmo tempo em que define as regras - Participe da vida de seus filhos, mas deixe espaço para que eles descubram seus próprios caminhos - Sarita Yardi, professora assistente, School of Information at University of Michigan
Definitivamente, a relação dos pais com seus filhos no mundo das redes sociais está longe de ser uma questão fácil de ser respondida. É uma preocupação universal, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e, da mesma forma, na China.
Foi-se o tempo em que se poderia pensar na existência de uma Cïdade Proibida. Na Internet, e na vida real, cada vez mais estes muros vem caindo e se abrindo. Cabe a cada família construir sua relação, tanto no mundo real quanto no mundo online, com base no respeito e na confiança.