Já estamos no décimo-segundo ano do século XXI e ainda tentamos responder a muitas questões do século passado. Uma delas é velha companheira do mundo corporativo e coloca em choque não apenas gerações mas, também, modelos de gestão. Já foi feita inúmeras vezes e é repetida toda vez que uma nova tecnologia surge. Foi assim com o telefone fixo nos anos 50, com os micro-computadores nos anos 80, com o email também na mesma época, com a Internet na década de 90, com o telefone móvel também nos anos 90, com os sistemas de mensagem instantânea no início deste século, e, agora, com as Redes Sociais. O seu uso na empresa deve ser liberado, restringido ou proibido? Seu uso vai aumentar ou reduzir a produtividade?
Faz pouco tempo participei de um painel em que o tema foi abordado. Um dos painelistas defendia a tese de que a liberação do uso de Redes Sociais dentro da empresa deve ser controlado, proibido mesmo. Segundo ele, a liberdade de uso vai obrigatoriamente ter impacto na produtividade dos empregados e, consequentemente, no lucro das empresas. A discussão tornou-se mais acalorada e, ao final do painel, acredito que os presentes tenham levado para casa uma grande pergunta: Como tratar o uso de Redes Sociais dentro das empresas?
Para responder de forma adequada a esta pergunta é importante voltar no tempo e, principalmente, entender o que se passou com a indústria global nos últimos 100 anos quando uma nova tecnologia era inserida. Para suportar este post, busquei apoio no livro "A Sociedade em Rede", de Manuel Castells (1), o primeiro volume de uma trilogia que pretende analisar os impactos em nossa sociedade das novas tecnologias, principalmente em um mundo mais globalizado, integrado, em uma sociedade que vive em rede. Ao mesmo tempo que não é meu objetivo aqui analisar impactos economicos da adoção de novas tecnologias, é importante ter essa visão histórica e científica.
Em seu livro, Manuel Castells mostra claramente que houve um aumento da produtividade no último quartil do século XX, inicialmente lento, com um crescimento bem maior a partir da década de 90. Coincidentemente, neste mesmo período assistimos à entrada de novas tecnologias de informação nas empresas, o que nos leva a conclusão de que estas tecnologias, ao suportar maiores taxas de processamento e compartilhamento de informação, aceleram a produtividade das empresas, dos países e dos principais blocos econômicos. Portanto, ao processar informações e gerar conhecimento, as novas tecnologias propiciam o desenvolvimento de sociedades mais desenvolvidas e produtivas. Nesta época surgiu o termo "Sociedade da Informação" para designar o momento pelo qual passamos, em contraste com a "Sociedade Industrial", utilizada em referência à sociedade do final do século XIX e início do século XX.
Concluindo, Castells diz: "as empresas e os trabalhadores não terão muita escolha porque a concorrência, tanto local quanto globlal, impõe novas regras e novas tecnologias, eliminando gradualmente os agentes econômicos incapazes de obedecer às regras da nova economia. É por isso que a evolução da produtividade é inseparável das novas condições de competitividade.".... "a tecnologia, inclusive a organizacional e a de gerenciamento, é o principal fator que induz à produtividade".
Neste cenário, pode-se concluir que ignorar novas tecnologias pode ter um impacto não-positivo em uma empresa ou país. Literalmente todas as empresas que adotaram as tecnologias mencionadas no primeiro parágrafo podem afirmar que tiveram aumento de produtividade. Ou alguem consegue imaginar uma empresa, hoje, que não usa telefones ou micro-computadores?
A adoção de Redes Sociais, abertas e corporativas é a nova fronteira a ser explorada em termos de aumento de produtividade. Empresas como IBM, Cemex, Nokia, China Telecom e muitas outras que já adotaram Redes Sociais Corporativas, apontam claros resultados positivos em diversas áreas como Inovação, Pesquisa & Desenvolvimento, Relacionamento com Clientes, etc. Outras centenas ou milhares que já usam Redes Sociais abertas também mostram melhorias, quando usados da forma adequada é claro.
A grande questão, no cenário apresentado acima, é se devemos "Proibir e Censurar" o uso de Redes Sociais ou "Educar e Monitorar". E, nitidamente, a resposta é "Educar e Monitorar". A educação no uso desta nova tecnologia é parte fundamental do processo de implementação de uma RSC e deve ser tratada adequadamente. Para isso, empresas tem criado seu Código de Uso para Mídias Sociais, como já discutimos aqui (2).
Impor restrições ao uso de novas tecnologias é, no final, contraproducente. Lembro-me vagamente do início dos tempos do uso de telefones nas empresas mas me recordo claramente quando, anos depois, surgiu uma nova "tecnologia de ponta" que foi desenvolvida para limitar o uso do telefone pelos funcionários de uma empresa... o cadeado. Seu uso causava insatisfação e, em pouco tempo, foram criadas alternativas para "contornar" o cadeado.
Interessante observar o comportamento das empresas e até mesmo de países distintos, com relação à adocação de tecnologias de RSC. Na América Latina, o que tenho observado é um interesse crescente por empresas de absolutamente todos os segmentos pela tecnologia. Sejam indústrias mais dinâmicas como as de telecomunicações, varejo e mídia ou até mesmo outras, que vivem em rítmo mais compassado como máquinas pesadas e petróleo, todas tem buscado, em seu momento, avaliar como usar esta nova tecnologia. Governos e entidades do terceiro setor também tem se interessado e muitos já as utilizam.
No fundo o que tenho visto é que não se trata mais de analisar se vale ou não adotar a nova tecnologia mas, sim, em que momento e, principalmente, com que objetivo de negócio. Vale lembrar que a adoção das Redes Sociais deve estar ligada diretamente a estratégia da empresa aos seus objetivos finais.
Algumas
empresas ainda proibem o uso de Redes Sociais Públicas alegando
que seus funcionários vão perder tempo ou que vão consumir recursos
computacionais da empresa para outros fins. Pensam o mesmo com relação a Redes Sociais Privadas. Sempre imaginam seus funcionários passando horas ao dia navegando nas redes sociais de uma página para outra, sem absolutamente nenhum objetivo de negócio. Para evitar este "comportamento inadequado", simplesmente proibem seu uso, como proibiam o uso dos telefone usando pequenos cadeados. Pergunto-me se, nesses casos, o problema não é o uso inadequado e sim ter o "funcionário inadequado". Afinal, será que ele não vai usar também o telefone da empresa para uso pessoal? Nestes casos, o problema não está no uso da tecnologia em sí, mas em educar o profissional no correto uso da mesma.
Em minha opinião, restringir o uso de Redes Sociais, além de inócuo, também gera uma insatisfação nos funcionários. Mais ainda, pode trazer danos à imagem da empresa no mercado, sendo vista como controladora ou até mesmo obsoleta.
Pesquisa
Gostaria de convidá-lo para, juntos, termos uma fotografia um pouco melhor, ainda que limitada e informal, do estado em que as empresas se encontram com relação a adocação de Redes Sociais. Para isso, basta responder a enquete publicada na coluna à direita. O resultado final será publicado aqui mesmo e, para que o mesmo tenha melhor representatividade, solicito que respondam a enquete e a divulguem para seus amigos e colegas. Só assim teremos uma massa maior para uma melhor análise. Obrigado.
(1) http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Castells
(2) http://fgfmendes.blogspot.com/2011/07/sua-empresa-tem-uma-politica-para-o-uso.html
Olá Flávio...Como IBMista, sei que a empresa não restringe o acesso porém deixa claro nas políticas de segurança que o mesmo só deve existir quando há uma justificativa de negócio. Concordo com a educação do funcionário porém a questão é: ''Como ensinar o bom-senso?''. Como líder, penso nas questões motivacionais e por isso tento tratar esse assunto de maneira natural. Não tenho certeza se o acesso vai mesmo impactar a produtividade, temos até o exemplo da Google e seu ambiente de trabalho amplamente divulgado na rede para provar isso...
ResponderExcluirObrigado pelo comentário! Realmente este é nosso grande desafio, sejamos líderes ou não... Uma vez ouvi dizer que o "bem" mais bem compartilhado do mundo é o "bom senso"... pois todos acham que tem! Difícil, mas é parte de nosso trabalho. Por isso mesmo um projeto de Rede Social Corporativa deve ser levado a sério e considerar aspectos além da tecnologia, como venho comentando aqui mesmo.
ResponderExcluirA placa "Sorria, você está sendo filmado" ainda é a melhor estratégia. Monitore. Mostre que está monitorando. Exiba o resultado da monitoração. Sabendo que sou observado pensarei 2 ou 3 vezes antes de tentar fazer algo pois saberei que "meus atos foram documentados para a posteridade". Na dúvida não farei. Se fizer errado não poderei negar. Se fizer certo estarei isento de acusações. Monitoração é um alabi infalível para os que fazem a coisa certa. Só é um incomodo para os mal intencionados.
ResponderExcluirAs redes sociais e as plataformas computacionais que as suportam permitem comportamentos e compartilhamento de informações que seriam inviaveis pelo telefone ou numa conversa no café. Um link para um video racista ou pornografico. Um comnetario mais forte por estar "protegido" pela "sensação de anonimato". Portanto a comparação simples com o dia a dia não funciona.
ResponderExcluirDependendo do perfil da empresa, a resposta obvia é "educar e monitorar" e é a mais adequada na maioria dos casos. Em algumas situações "liberar totalmente, sem monitoração", confiando que os profissionais saberão usar o seu tempo e seu privilegio de acesso. Em poucos casos, "proibir". Sim, algumas areas profissionais poderiam proibir.
Mas eu acho que a questão é outra - ter a possibilidade de usar redes sociais para aumentar a produtividade profissional ao encontrar recursos e pessoas mais qualificadas... Compartilhar ideia com especialistas e obter analises. Isso é viavel nas redes existentes ou "inibiria o uso"? Seria necessario duas redes sociais, uma "de lazer" e uma "de uso profissional"?
Na verdade isso já existe hoje, por exemplo, com o facebook e linkedin. O mercado se adequa, as empresas idem, e existe uma seleção natural de acesso. E as empresas podem e devem criar suas redes sociais para isso. Dessa forma, existe a liberação para uso das redes externas, e "educa-se" o uso atraves da existencia de redes similares com fins especificos. Educar através do exemplo.
Excelente comentário, Panichi, obrigado!
ResponderExcluirVocê tocou em alguns pontos cruciais relacionados ao tema de Redes Sociais corporativas. O interessante é ver que o tema é realmente bem complexo e levanta vários questionamentos.
Dentre os pontos abordados por você, a questão do "Nível de Maturidade" da empresa é crítico. Algumas empresas estão prontas para tratar o tema enquanto outras ainda não estão. No primeiro caso, a abordagem é uma. Já no segundo caso, deve-se adotar mais cautela e reforçar bastante a "Educação". A definição dos "limites" é um grande desafio e deve ser compreendido por todos. Já existem estudos para suportar o mapeamento do "Nível de Maturidade" de uma empresa para projetos deste tipo.
O outro ponto abordado por você, a questão da "Produtividade", é tema de diversos estudos. O livro que mencionei, por exemplo, dedica bom espaço a avaliar o impacto de novas tecnologias no ambiente de trabalho. Sim, novas tecnologias, quando bem adotadas, trazem aumento da produtividade. O mesmo se aplica às tecnologias de Redes Sociais.
Enfim, motivo para longas discussões. Uma vez mais, obrigado pelo comentário!