Faz muitos anos que vou para o trabalho seguindo o mesmo caminho: a praia de Ipanema (na foto, acima, vista do Arpoador), o Arpoador e logo em seguida, a praia de Copacabana e a Avenida Princesa Isabel. Faço o percurso diariamente quase no mesmo horário e, por mais curioso que possa parecer, vejo algumas pessoas regularmente. Uma corredora, que vai do Leme ao Posto 10 (baseado em minhas observações), um pedinte no sinal para entrar na Princesa Isabel, uma entregadora de jornais no sinal do cruzamento da Princisa Isabel com a Av. Nsa Sra de Copacabana e um fiscal de uma companhia de ônibus que pode estar em qualquer lugar entre o posto 5 e a Princesa Isabel, sempre caminhando com sua gravata e uma prancheta para anotações. Nunca parei para falar com eles. Não sei seus nomes e nem o que fazem da vida. Mas sei que eles estão ali, na periferia da minha "rede social".
A prática
Hoje resolvi parar para tentar conversar com o fiscal de ônibus. Muito simpático, o convidei para tomar um cafezinho em um bar na Princesa Isabel. Seu nome é Arnaldo Cintra, tem 53 anos e realmente trabalha como fiscal de transportes. Seu escritório é ali mesmo, na rua, todos os dias, das 6 às 11 da manhã, quando ele faz um intervalo para almoço. Depois, vai para a garagem da empresa, onde presta contas do movimento da parte da manhã. Ele conhece a dinâmica do trânsito naquela região muito bem. Sabe em quais horários o volume de carros aumenta, em que horário se pode trafegar com mais facilidade e até mesmo os dias da semana e do mês em que é melhor nem sair de casa, se seu percurso passa por alí. Ele tem um conhecimento bem interessante sobre mobilidade urbana (pelo menos naquele trecho da cidade) obviamente não estruturado, não formal. Depois do café, fiquei me perguntando se seu conhecimento é devidamente utilizado pela empresa para a qual trabalha.
A teoria
Nicholas Christakis
, além de ser um renomado
professor de Sociologia em Harvard, é um Cientista Social. Ele estuda os relacionamentos humanos muito antes dos efeitos das Redes Sociais. Grande parte dos seus estudos está direcionado para entender a capacidade de se influenciar outras pessoas, em uma rede qualquer. Sua teoria analisa os elos formados pelos participantes de uma rede e sua intensidade. Com base nisso, ele consegue identificar aqueles que mais contribuem em uma rede e como sua influencia é exercida.
Em qualquer rede social, seja aberta ou privada, vamos sempre encontrar algumas
"personalidades" típicas. Elas convivem quase que harmoniosamente, em um "equilíbrio social", cada um executando seu papel. Assim como temos aqueles que são facilmente identificados como principais influenciadores, também conhecidos como
Tippers, temos aqueles que são mais "tímidos", que registram menos conhecimento e que, em um desenho de uma RSC aparecem na periferia, sem conexões com o restante da rede.
Como ligar a teoria com a prática?
O conhecimento coletivo de uma empresa está distribuido pelos elementos que formam sua rede social corporativa. Cada componente tem sua parcela de conhecimento, que pode ser compartilhada ou não. Aqueles que são mais tímidos ou que, por algum motivo, acabam posicionando-se na periferia e sem conexões, também possuem conhecimento e, principalmente, valor para a empresa. É um conhecimento que está, de alguma forma, isolado do restante da rede, não sendo devidamente utilizado pelo restante da empresa.
E aí está um dos grandes desafios de um projeto de uma RSC (Rede Social Corporativa), identificar os elos fracos e seus elementos, e fazer com que eles participem mais ativamente da dinâmica social da empresa. Eles não somente podem contribuir com o conhecimento que tem, mas podem também beneficiar-se de tudo o que já está registrado e sendo compartilhado na RSC.
Para isso, é preciso ter mais do que simplesmente sistemas sofisticados de métricas sociais. É preciso analisar cuidadosamente os resultados delas. É relativamente fácil encontrar os grandes contribuidores. Afinal, eles registram conhecimento de forma ativa e, por isso, aparecem nos relatórios e estatísticas. E aqueles que não aparecem? Como identificá-los? Na IBM, internamente, utilizamos o IBM Small Blue para isso. Dentre as informações que ele pode fornecer, o diagrama abaixo é um bom exemplo.
No diagrama, nota-se claramente aqueles que tem mais conexões e os que estão na periferia. Este quadro acontece em qualquer empresa, em qualquer ecosistema. E é fundamental que se tenha uma visão clara dele pois somente assim podemos identificar os diferentes contribuidores. E, mais além, é possível identificar os que estão na periferia. Eles tem muito conhecimento para ser compartilhado e podem contribuir muito para a Inteligência Coletiva de sua empresa.
Neste cenário, fica a pergunta... Quantas vezes você passa por um colega de trabalho e não fala com ele? Quantos "fiscais de empresa de ônibus" existem em sua empresa?