quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Social Business & Michael Porter

Em 1979, a Harvard Business Review publicou um artigo entitulado "How Competitive Forces Shape Strategy", de um jovem economista e professor associado chamado Michael Porter. Foi o primeiro artigo dele e desencadeou uma verdadeira revolução no campo da Estratégia Corporativa. Já se vão mais de 30 anos e o trabalho ainda é referência em qualquer escola de negócios. Eis que esta semana estou em Boston, onde tudo começou, assistindo a um curso especial sobre Estratégia de Negócios. Uma das professoras, Anita McGrahan, além de brilhante, trabalhou com Porter. Depois de uma de suas aulas, tive a oportunidade de conversar com ela sobre Social Business e o modelo das 5 forças de Porter e fiz a seguinte pergunta... "você concorda que Social Business altera o equilíbrio de forças definido pelo modelo em algumas indústrias?".
O modelo das 5 forças, no diagrama acima, fornece um bom framework para analisar as principais forças que podem tornar um business competitivo e seus riscos associados. Com ele é possível analisar, de forma estruturada, e com o rigor necessário, o poder de barganha que compradores (buyers) e fornecedores (suppliers) tem e como eles podem impactar o ecosistema em uma determinada indústria. Também permite analisar a ameaça representada por "novos entrantes" e por "produtos subsitutos"... por último, analisa o ambiente de rivalidade dos atuais players.

Toda uma geração de estrategistas, administradores e economistas aprendeu a usar o modelo. Durante este tempo, o mercado assistiu a entrada de inúmeras novas tecnologias que, de certa forma, foram alterando em escala maior ou menor o equilíbrio das forças. Foi assim com a microinformática, com a telefonia móvel e com a Internet. 

A Prof. Anita McGrahan concorda plenamente com a visão de que Redes Sociais impactam de forma direta o equilíbrio destas forças para algumas indústrias. Discutimos, por exemplo, o business de Turismo, mais especificamente a transformação que o Booking.com trouxe para o segmento. Faz pouco tempo, a indústria era liderada por agências de viagem, que tinham quase que o monopólio no processo de seleção de hoteis e reservas. Atualmente, com o Booking, o próprio usuário pode consultar os serviços oferecidos por estabelecimentos em todo o mundo, sem intermediários. Mais importante ainda, ele pode analisar os serviços prestados e compartilhar com literalmente milhões de outros interessados no mundo todo. De forma significativa, as Redes Sociais modificaram este equilíbrio e trouxeram uma nova dinâmica para o segmento. Além de Travel, outras indústrias, como Retail e Entertainment também sofreram mudanças devido as Redes Sociais.

Social Business tem o mesmo potencial e poder dentro dos muros do mundo corporativo. Ao derrubar barreiras internas departamentais e geográficas, permitir maior agilidade na troca de informações e no processo de inovação, as tecnologias de Social Business literalmente quebram o equilíbrio tradicional das empresas fortemente enraizado nos rígidos organogramas. Além disso, os seus efeitos vão além das antigas fronteiras da empresa, alcançando clientes, parceiros e fornecedores.

Um novo modelo organizacional surge, baseado em um "sociograma corporativo", onde são valorizados os relacionamentos, a agilidade, a troca de informações, a inovação, enfim, todos aqueles processos associados de forma direta ou indireta a Gestão de Conhecimento, o maior asset que uma empresa pode ter.

Porter conclui seu famoso artigo lembrando que que as forças competitivas revelam os principais direcionadores da indústria. Ele diz claramente que "a company strategist who understands that competition extends well beyond existing rivals will detect wider competitive threats and be better equipped to address them"... "in a world of more open competition and relentless change, it is more imporant than ever to think structurally about competition".

Utilizar de forma adequada Social Business em uma empresa, acompanhar e analisar toda a riquesa de informações geradas é, sem dúvida alguma, um asset de enorme valor para qualquer empresa e que pode, de forma direta, alterar o equilíbrio de toda uma indústria. Serão líderes aqueles que souberem utilizar estes conceitos a seu favor para, em alguns casos, mudar as regras do jogo e, no final das contas, garantir que a energia gasta por estrategistas e administradores seja direcionada para "create true economic value".

12 comentários:

  1. Thanks Flavio continue enviando informacoes interessantes ,

    Abs
    Caio l Oliveira

    BP FNC IT SOLUTIONS

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  2. Obrigado pelo feedback, Caio! Bom saber que a informação tem valor.

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  3. muito bom Flavio, questões muito pertinentes nos dias de hoje a qualquer um que esteja engajado em um business, de fato as relações de competição estão sendo profundamente alteradas sem que nós tenhamos nos apercebido disto.! A carreira também de analistas de Mídia Social precisa ser melhor pensada e visualizada pelos jovens e pelos empregadores em geral!!!

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    1. Obrigado, Sandra. Realmente estamos assistindo a entrada de novos elementos no ambiente corporativo global que tem alterado seu equilíbrio. E isso vai além, afetando também carreiras. Repensá-las é fundamental. Faz pouco tempo li um trabalho em que o autor dizia que "estamos preparando alunos hoje para entrar na força de trabalho em 2025, para exercer cargos e funções que ainda nem existem"... Isso tem que ser melhor pensado...

      Obrigado mais uma vez por seu comentário.

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  4. Mais recente que Porter, vimos a publicação da Quinta Disciplina (1990), por Peter Senge que, também de forma estruturada, identifica pontos críticos que as organizações devem focar, na busca de sua evolução. Senge vem trabalhando esta questão das redes sociais, intra-corporativas e entre organizações, na busca da sustentabilidade. Estes conceitos apresentados por Senge também podem ser aplicados na busca por agregação de valor às redes sociais.

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    1. Peter Senge é um "Guru" na área, tal como Porter, e seu trabalho, além de respeitadíssimo, também trouxe luz às mudanças por que estão passando as modernas corporações... principalmente as mudanças pelas quais as empresas devem passar para seguir crescendo de forma equilibrada. Seu trabalho é uma referência.

      Obrigado, Bernadette!!!

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  5. Parabéns Flávio ! Mais uma ótima contribuição !

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    1. Obrigado pelo comentário, Daniel! Fico feliz em ver que foi útil!

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  6. Grande Flávio !

    É com imenso prazer que passo a seguir o Explora!, blog extremamente útil e esclarecedor neste mar de informações de que dispomos atualmente.

    São trabalhos como este seu, que nos ajudam a entender o que se passa no mundo atual, onde as coisas podem mudar radicalmente de feição entre o café da manhá e o jantar. Literalmente.

    Pessoas como você, que colocam o conhecimento à disposição de outros, adicionando a ele a sua acurada e experiente visão pessoal, prestam-nos um inestimável serviço, pelo qual só temos a agradecer !

    Parabéns, meu amigo. Que este blog tenha um longo e brilhante futuro, como até aqui.

    Forte abraço.

    Philippe

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    1. Puxa, Philippe, obrigado pelo comentário! Fico realmente feliz pois vejo que meu esforço pessoal tem valor. Espero poder contribuir cada vez mais compartilhando conhecimento e, mais importante ainda, abrindo debates em assuntos específicos e de valor para nós.

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  7. Obrigado, Flávio.

    Estreiei em seu blog e gostei. Tem value added.

    Fiquei fã.

    Silverio Chiaradia

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    1. Muito obrigado por seu comentário, Silverio. Fico feliz que tenha valor para você! Este é meu objetivo, compartilhar informações que tenham valor para nosso dia-a-dia.

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