segunda-feira, 11 de junho de 2012

Rio+20, Sustentabilidade, Redes Sociais e Consumo Colaborativo


Nosso atual modelo de consumo de produtos e serviços nasceu nos primórdios da civilização, foi profundamente alterado no final do século XIX, com a Revolução Industrial, e foi gradualmente ajustado durante o século XX. Além disso, foi fortemente impactado pela produção em massa e pelo marketing de consumo. Ele induz ao consumo, mesmo daquilo que não necessitamos. Desta forma, é comum que produtos sejam comprados e pouco utilizados. Uma furadeira, por exemplo, é utilizada, em média, por 12 ou 13 minutos em sua "vida útil", ou seja, praticamente nada. Na verdade, o que queremos é o buraco, e não a furadeira. Da mesma forma, queremos a música, e não o CD, o filme, e não o DVD, e por aí vai.

O que está errado por trás disso é que a produção de um produto qualquer consome recursos naturais, energia e mão de obra em uma escala enorme, poucas vezes conhecida pelo consumidor final. Em um momento onde se busca um maior equilíbrio para melhor administrar os impactos ambientais em nosso planeta, o crescimento do uso do modelo de "Consumo Colaborativo" aparece como uma nova via, uma excelente alternativa, levando-nos do hiper-consumo do século XX para uma nova realidade, no século XXI. O impacto potencial é enorme, tanto em termos culturais quanto econômicos, tudo isso em uma escala nunca antes imaginada. O que torna isto possível? A infraestrutura que temos atualmente, em termos de tecnologias de Redes Sociais e de Tempo Real, associadas a mudanças culturais profundas.

Basicamente existem três formas distintas de Consumo Colaborativo:

  1. "Mercado de Redistribuição" - é onde pessoas compartilham, ou trocam, produtos que não usam mais. É como se fosse um grande bazar online, sendo que, em tese, não existe troca financeira, apenas de produtos, como se fosse um escambo. Desta forma, ampliamos a vida útil de um produto ao permitir que outra pessoa use algo que não estamos mais utilizando. Ao fazermos isso, evitamos que seja necessária a produção de um novo ítem, economizando matéria prima, energia e mão-de-obra.
  2. "Estilo de vida Colaborativo" - trata-se de um sistema um pouco mais complexo, onde pessoas trocam bens não necessariamente materiais. Como um exemplo, um médico poderia dar consultas para uma determinada comunidade e, em troca, receber hospedagem por um período de tempo. Um exemplo interessante ocorre na Inglaterra, onde pessoas que tem interesse em cultivar sua própria comida, mas não tem terreno para isso, podem fazer contato com outros, que tem terra disponível. O site, chamado LandShare, já tem quase 70 mil membros.
  3. "Sistema Produto-Serviço" - Este é um modelo bastante interessante e que está ganhando espaço nas grandes cidades. Basicamente, a idéia é que você não precisa possuir um determinado "produto" para ter o "serviço" prestado por ele. Um belo exemplo é o caso dos alugueis de bicicletas no Rio de Janeiro. O BikeRio caiu no gosto do Carioca e, atualmente é utilizado de forma ininterrupta por cidadãos e turistas, a lazer ou a trabalho. Outros sistemas semelhantes existem em grandes cidades até mesmo para o aluguel de carros. Para se ter uma idéia, um carro é utilizado, em média, por apenas uma hora por dia!

O fato é que a proliferação do uso das Redes Sociais e das tecnologias de Tempo Real, com base em Smartphones e Tablets, estão dando um enorme empurrão neste novo modelo de consumo. Some-se a isso a recessão global por que estamos passando e temos um modelo bastante adequado para uma forma mais inteligente de consumo. Segundo Kevin Kelly, editor da revista norteamericana Wired, "access is better than ownership". Afinal, para que possuir um automóvel e usar apenas uma hora por dia? Para que comprar uma furadeira e usá-la por apenas 12 minutos? Para que possuir uma coleção de CDs se o que queremos são as músicas?

Não a toa, o "Consumo Colaborativo" foi considerado pela revista Time, em 2011, como uma das 10 idéias que vão mudar o mundo.

A base de todo este novo modelo está em um conceito relativamente novo e já discutido aqui em maio de 2008, o da Reputação Online. Todo o processo de "troca" é baseado na confiança e esta, no mundo virtual, é literalmente "medida". Cada membro dos sites que promovem este tipo de Consumo tem um gráu associado, que indica o nível de credibilidade dele.

É este novo modelo, o do Consumo Colaborativo, que promete trazer um novo equilíbrio para a economia mundial, trazendo uma nova dimensão para a sociedade. Apenas para se ter uma idéia, veja quantos litros de água são necessários para produzir alguns produtos comuns em nossa sociedade:
  • Automóvel (sem considerar os pneus) - 147 mil litros
  • Um par de Jeans - 6800 litros
  • Uma simples camiseta - 1500 litros
  • O último é, no mínimo, irônico... para produzir uma garrafa de plástico, utilizada para armazenar água mineral, são necessários, simplesmente, 7 litros de água
Considerando que a água é um bem pessimamente distribuido (veja o quadro abaixo), pode-se imaginar o impacto que o Consumo Colaborativo, se levado a uma escala global, pode ter em nossa sociedade.


Será que podemos trazer este modelo para dentro de nossas empresas? Que tal compartilhar e trocar, com colegas de trabalho, produtos que você não usa mais? Que tal trocar serviços? No final do dia, ao aumentar a vida útil de um produto, estamos reduzindo o consumo de matéria-prima e de energia, contribuindo para uma economia sustentável. O certo é que, para atingir a escala global, precisamos iniciar dentro de casa, em nosso bairro, em nossa empresa, em nossa cidade. O primeiro passo depende somente de nós mesmos.

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