sexta-feira, 26 de julho de 2013

1 + 1 = 3, o real Valor de uma Rede Social Corporativa


Há alguns anos venho compartilhando minha experiência profissional em Social Business, aqui no blog, em eventos externos e internos, em artigos e nos mais diferentes canais. Já falei sobre os benefícios, os desafios e até sobre algumas das lições que aprendi (parte 1 e parte 2). Hoje gostaria de compartilhar um exemplo prático de um dos principais benefícios de uma Rede Social Corporativa.

Em poucas semanas parto para uma experiência única, um período de 4 semanas na China. Trata-se de um projeto da IBM, o Corporate Services Corp, dedicado ao desenvolvimento de executivos e profissionais globais, que podem trabalhar em diferentes países e regiões, convivendo com culturas distintas. Participar do mesmo é uma grande honra pois o processo de seleção é bastante criterioso. Dentre os requisitos para participar estão características de liderança, empreendedorismo, facilidade de adaptação, flexibilidade e um profundo desejo de desenvolver novas habilidades.

Inúmeros desafios e questões vão nos desafiar diariamente. Nos últimos dois meses nos reunimos virtualmente toda semana para discutir os temas mais variados relacionados ao trabalho a ser executado. Falamos sobre logística, cultura, objetivos do trabalho, segurança, turismo e muito mais. Para suportar este grupo, antes, durante e depois do projeto, foi criada uma comunidade em nossa Intranet. Lá, compartilhamos informações oficiais do projeto e outras mais, contribuições de cada membro do time.

A comunidade permite, por exemplo, que arquivos com informações e apresentações sejam compartilhados com todos os membros sem a necessidade de enviar uma cópia por email para cada um. Desta forma, além de reduzir a carga na rede, principalmente para quem está remoto, garantimos que todos tenham acesso a mesma versão de um arquivo, evitando problemas de comunicação durante as reuniões virtuais semanais.

Outro ponto interessante é a forma como vários temas são discutidos. Com o uso de Fórums os participantes podem contribuir com suas opiniões para cada assunto, e as conversas ficam registradas para que qualquer um tenha acesso quando necessário. Mais uma vez, ganha-se em produtividade ao se evitar problemas simples de comunicação.

O desafio é enorme e, durante as 4 semanas, farei parte de um grupo de 12 profissionais da IBM de vários países. Trabalharemos em grupos de 3, junto a empresas da região e também com estudantes de uma escola da cidade. Os participantes deste grupo são de 8 países distintos: Estados Unidos, França, Reino Unido, Eslováquia, Romênia, Índia, Emirados Árabes e Brasil. 

Seria simplesmente impossível organizar e coordenar todas as atividades que estamos fazendo sem o uso de nossa Intranet Social. Este é um exemplo perfeito de uma situaçãm em que 1 + 1 é muito mais do que 2, um caso real do valor de uma rede social corporativa. 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

II BraSNAM - Brazilian Workshop on Social Network Analysis and Mining

Esta é a apresentação que fiz, hoje, no II BraSNAM - Brazilian Workshop on Social Network Analysis and Mining, em Maceió. O workshop ocorre simultaneamente com o 33o Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC), evento oficial da Sociedade Brasileira de Computação. Sua proposta é ser um ambiente para discussões de grupos multidisciplinares sobre o tema Análise de Redes Sociais.

Meu objetivo principal foi apresentar de que formas organizações estão utilizando Social Business e Análise de Redes Sociais, tanto em suas Intranets quanto para a Internet.


Mais uma vez, um agradecimento especial aos organizadores do evento, Jonice Oliveira, da UFRJ, Fabrício Benevenuto, da UFMG, pelo convite.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Social Business - Lições Aprendidas Parte 2


Este é o segundo e último post em que compartilho algumas das principais lições que aprendi durante os últimos 4 anos atuando em projetos de Social Business na América Latina (para o primeiro post, clique aqui). Já vimos que é fundamental em um projeto de Social Business:
  1. O projeto deve estar relacionado a objetivos de negócio
  2. Os executivos devem suportá-lo
  3. A tecnologia faz diferença e pode ser a diferença entre seu sucesso ou fracasso
Seguimos com mais alguns pontos importantes:
  1. Construa um plano de implementação, um roadmap

    Um projeto de Social Business não deve ser implementado de uma só vez, como um grande big-bang. Projetos de sucesso são cuidadosamente planejados e as etapas definidas antes de seu início. Minha principal missão nos últimos anos foi executar o que chamamos de Social Business Agenda (SBA). Trata-se de uma metodologia estruturada especialmente desenvolvida para projetos deste tipo. Inicialmente, é feito um levantamento do estado atual de uma empresa com relação a maturidade em Social Business. Diversas áreas da empresa são estudadas e um relatório aponta a situação corrente. Em seguida, definem-se objetivos a serem atingidos em um determinado período de tempo, que pode ser um ano, dois anos, ou qualquer outro período. Aí sim é possível desenvolver um plano, um roadmap.

    O roadmap representa mais do que simplesmente um plano, ele representa um compromisso que envolve diversas áreas de uma empresa. É um comum acordo para a execução do projeto que vai ter impactos em diversas unidades.

  2. Defina Objetivos e Métricas

    Como saber, depois de um determinado período, se tivemos sucesso ou não? Como fazer ajustes durante o projeto se não sabemos que objetivos pretendemos alcançar? Para garantir que os objetivos iniciais sejam devidamente perseguidos e para saber se estamos alcançando-os, é fundamental definir claramente objetivos e métricas, antes de começar.

    Existem diferentes tipos de métricas. Por exemplo, podemos medir as contribiuções de cada funcionário da empresa. É possível saber quem está contribuindo mais, qual o grupo de trabalho mais ativo, qual blog é mais frequentemente atualizado e muito mais. Estas são as "métricas de produção", que tem por objetivo medir a produção de conteúdo. Ao mesmo tempo, e tão importante quanto, podemos medir como o conteúdo produzido está sendo consumido. São as "métricas de consumo". Quantas pessoas visitaram um post em um blog? Quantos funcionários baixaram um arquivo publicado por um colega de trabalho? Estas métricas, quantitativas, dão uma boa visão sobre a atividade de uma Rede Social Corporativa. É como se fossem os seus "sinais vitais"

    Além das métricas quantitativas, também podem ser definidas métricas qualitativas. Estas são mais específicas de determinadas áreas da empresa, ou de linhas de negócio. É possível, por exemplo, monitorar o aumento no número de projetos colaborativos, a redução no tempo necessário para o desenvolvimento de novos produtos, melhorias em processos associadas com inovação e muito mais. São métricas mais complexas mas que podem ser medidas desde que devidamente especificadas.

  3. Não super valorize a questão da cultura

    Já ouvi de alguns clientes a frase "isso nunca vai dar certo aqui". Esta é a forma mais simples e rápida de estancar qualquer processo de inovação, qualquer mudança. Isso desanima qualquer um. A cultura corporativa é importante sim. E precisa ser devidamente entendida e respeitada para que se tenha sucesso no projeto. Costumo dizer que um projeto de Social Business não muda a cultura de uma empresa, ele a expõe. Ou seja, esteja preparado para isso, mas não se esconda atrás dela.

    Uma empresa com determinado nível de maturidade em Social Business será mais ágil, mais transparente e terá funcionários mais comprometidos. Os benefícios são grandes.

  4. Não exagere na questão da Inovação

    Não, sua empresa não será a nova campeã mundial de inovação somente por que tem um projeto de Social Business. Este é um dos objetivos mais comuns em projetos deste tipo mas é importante manter as expectativas em um nível adequado. Da mesma forma que não se deve super valorizar a questão da cultura, não se deve exagerar com relação a Inovação. Sim, sua empresa terá condições de, no momento correto, inovar mais. O conhecimento compartilhado por cada funcionário contribuirá para a construção da "inteligência coletiva" de sua empresa e, no final do dia, será fundamental para um aumento da inovação. Mas manter as expectativas em um patamar aceitável é importante para evitar desapontamentos.

  5. Ouça seu cliente, sempre

    A última lição que gostaria de compartilhar é, talvez, a mais importante: "ouça seu cliente". Em hipótese alguma inicie um projeto de Social Business sem conhecer os objetivos e demandas das diferentes áreas de sua empresa. Não parta da premissa que você já sabe o que é desejado. Este é um grande (e comum) erro. Converse muito com seu cliente interno, discuta o tema, entenda os objetivos, o que seu cliente deseja alcançar. Repita o processo quantas vezes for necessário. Quando estiver absolutamente claro para ambas as partes, aí sim você pode começar os trabalhos.

    Em muitos casos é interessante utilizar conceitos como prototipação para validar o entendimento. A metodologia que utilizo para isso chama-se Day in the Life (DITF) e tem por objetivo criar um protótipo simplificado do que buscamos alcançar. Como em muitos casos estamos falando com áreas com menor conhecimento em tecnologia, um protótipo pode ajudar muito a chegarmos a um denominador comum.
Bom, é isso! Espero que estas "lições aprendidas" sejam úteis. Fundamental ter em mente que cada projeto tem suas características próprias, objetivos, métricas e desafios. Alcançar um nível de maturidade adequado em termos de Social Business é uma jornada extremamente enriquecedora. Enjoy the ride!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Fórum Gestão de Pessoas - Mídias Sociais como ferramenta para o RH

Esta foi a apresentação que fiz ontem em evento organizado pela Amcham, franquia Ribeirão Preto, SP. O objetivo principal foi discutir como empresas estão utilizando as mídias sociais em seu processo de RH, mais especificamente recrutamento e seleção. Em 2012 a IBM adquiriu a empresa Kenexa, líder global em soluções para RH como recrutamento de talentos e desenvolvimento de carreira, dentre outros. Foi uma excelente oportunidade para compartilhar com gestores de RH de importantes empresas da região a visão da IBM.

O evento também contou com uma brilhante apresentação de Claudia Klein, da Argumentare e do site Salada Corporativa.

sábado, 6 de julho de 2013

Fórum Gestão de Pessoas - Mídias Sociais como ferramenta para o RH

No próximo dia 11 de Julho participarei do Fórum Gestão de Pessoas, organizado pela Amcham Brasil, franquia Ribeirão Preto. O foco do evento é o uso das Mídias Sociais como uma ferramenta para a área de Recursos Humanos. Pretendo compartilhar conceitos de Social Business e a experiência de empresas como a IBM no uso de mídias sociais para identificação e retenção de talentos.

Como identificar talentos? Como usar as mídias sociais para buscar novos colaboradores? Como desenvolver sua carreira? Estas e outras perguntas serão discutidas durante as apresentações programadas para a manhã do dia 11, a de Claudia Klein, da Argumentare, e do site Salada Corporativa, e a minha.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Entrevista com Manuel Castells

Manuel Castells nasceu na Espanha, em 1942 e é um dos mais brilhantes cientistas sociais da atualidade. É Catedrático de sociologia e planejamento urbano e regional na Universidade da Califórnia, Berkeley. Também deu aulas na École Pratique des Hautes Études en Sciencies Sociales em Paris e atuou como professor visitante em 15 universidades da América Latina.

Com larga experiência internacional, é autor de mais de 20 livros, publicados em várias línguas, dentre os quais a trilogia "A era da informação: economia, sociedade e cultura", da qual o primeiro volume, "A sociedade em rede", é um belo tratado sobre a nova dinâmmica global economica e social. O livro foi escrito com base em pesquisas feitas nos EUA, Ásia, América Latina e Europa e procura analisar os efeitos da tecnologia da informação no mundo contemporâneo. Já falei sobre este livro aqui no post Redes Sociais: "Proibir e Censurar" ou "Educar e Monitorar"?.

No dia 29 de junho, concedeu uma entrevista que foi publicada no Jornal O Globo, que tomo a liberdade de reproduzir. Para acesso ao conteúdo no site do Jornal, clique aqui.

Para maiores informações sobre Manuel Castells, visite este site.

Entrevista:

Para o sociólogo catalão Manuel Castells, boa parte dos políticos é de “burocratas preguiçosos”. Ele é um dos pensadores mais influentes do mundo, com suas análises sobre os efeitos da tecnologia na economia, na cultura e, principalmente, no ativismo. Conhecido por sua língua afiada, o espanhol falou ao GLOBO por e-mail sobre os protestos.

Os protestos no Brasil não tinham líderes. Isso é uma qualidade ou um defeito?

Claro que é uma qualidade. Não há cabeças para serem cortadas. Assim, as redes se espalham e alcançam novos espaços na internet e nas ruas. Não se trata, apenas, de redes na internet, mas redes presenciais.

Como conseguir interlocução com as instituições sem líderes?

Eles apresentam suas demandas no espaço público, e cabe às instituições estabelecer o diálogo. Uma comissão pode até ser eleita para encontrar o presidente, mas não líderes.

Como explicar os protestos?

É um movimento contra a corrupção e a arrogância dos políticos, em defesa da dignidade e dos direitos humanos — aí incluído o transporte. Os movimentos recentes colocam a dignidade e a democracia como meta, mais do que o combate à pobreza. É um protesto democrático e moral, como a maioria dos outros recentes.

Por que o senhor disse que os protestos brasileiros são um “ponto de inflexão”?

É a primeira vez que os brasileiros se manifestam fora dos canais tradicionais, como partidos e sindicatos. As pessoas cobram soberania política. É um movimento contra o monopólio do poder por parte de partidos altamente burocratizados. É, ainda, uma manifestação contra o crescimento econômico que não cuida da qualidade de vida nas cidades. No caso, o tema foi o transporte. Eles são contra a ideia do crescimento pelo crescimento, o mantra do neodesenvolvimentismo da América Latina, seja de direita, seja de esquerda. Como o Brasil costuma criar tendências, estamos em um ponto de inflexão não só para ele e o continente. A ideologia do crescimento, como solução para os problemas sociais, foi desmistificada.

O que costuma mover esses protestos?

O ultraje, causado pela desatenção dos políticos e burocratas do governo pelos problemas e desejos de seus cidadãos, que os elegem e pagam seus salários. O principal é que milhares de cidadãos se sentem fortalecidos agora.

O senhor acha que eles podem ter sucesso sem uma pauta bem definida de pedidos?

Acho inacreditável. Além de passarem por uma série de problemas urbanos, ainda se exige que eles façam o trabalho de profissional que deveria ser dos burocratas preguiçosos responsáveis pela bagunça nos serviços. Os cidadãos só apontam os problemas. Resolvê-los é trabalho para os políticos e técnicos pagos por eles para fazê-lo.

Com organização horizontal, esse movimento pode durar?

Vai durar para sempre na internet e na mente da população. E continuará nas ruas até que exigências sejam satisfeitas, enquanto os políticos tentarem ignorar o movimento, na esperança que o povo se canse. Ele não vai se cansar. No máximo, vai mudar a forma de protestar.

Outra característica dos protestos eram bandeiras à esquerda e à direita do espectro político. Como isso é possível?

O espaço público reúne a sociedade em sua diversidade. A direita, a esquerda, os malucos, os sonhadores, os realistas, os ativistas, os piadistas, os revoltados — todo mundo. Anormal seriam legiões em ordem, organizadas por uma única bandeira e lideradas por burocratas partidários. É o caos criativo, não a ordem preestabelecida.

Há uma crise da democracia representativa?

Claro que há. A maior parte dos cidadãos do mundo não se sente representada por seu governo e parlamento. Partidos são universalmente desprezados pela maioria das pessoas. A culpa é dos políticos. Eles acreditam que seus cargos lhes pertencem, esquecendo que são pagos pelo povo. Boa parte, ainda que não a maioria, é corrupta, e as campanhas costumam ser financiadas ilegalmente no mundo inteiro. Democracia não é só votar de quatro em quatro anos nas bases de uma lei eleitoral trapaceira. As eleições viraram um mercado político, e o espaço público só é usado para debate nelas. O desejo de participação não é bem-vindo, e as redes sociais são vistas com desconfiança pelo establishment político.

O senhor vê algo em comum entre os protestos no Brasil e na Turquia?

Sim, a deterioração da qualidade de vida urbana sob o crescimento econômico irrestrito, que não dá atenção à vida dos cidadãos. Especuladores imobiliários e burocratas, normalmente corruptos, são os inimigos nos dois casos.

Protestos convocados pela internet nunca tinham reunido tantas pessoas no Brasil. Qual a diferença entre a convocação que funciona e a que não tem sucesso?

O meio não é a mensagem. Tudo depende do impacto que uma mensagem tem na consciência de muitas pessoas. As mídias sociais só permitem a distribuição viral de qualquer mensagem e o acompanhamento da ação coletiva.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/manuel-castells-povo-nao-vai-se-cansar-de-protestar-8860333#ixzz2Y5EhFyEv 
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quarta-feira, 3 de julho de 2013

IBM Mobile and Social Business, SP, 2 de Julho de 2013

Ontem fiz apresentação no evento IBM Mobile and Social Business, no Hotel Unique, em São Paulo. O público presente, quase 200 pessoas, era composto fundamentalmente por ISVs, SIs e Parceiros de Negócio da IBM. Abaixo a apresentação integral.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Entrevista com Pierre Levy

Pierre Levy é um dos maiores pensadores da atualidade sobre a cybercultura. Ele estuda o relacionamento entre a sociedade e a internet e seus desdobramentos. Na quarta-feira da semana passada, 26 de Junho, concedeu uma entrevista para o Jornal O Globo, do Rio de Janeiro, que tomo a liberdade de reproduzir. Para acesso a entrevista no site do Jornal, clique neste link.


Formação (Wikipedia):
Lévy é mestre em História da Ciência, pela Universidade de Sorbonne, tem formação em Sociologia e Filosofia. É um pesquisador reconhecido e respeitado na área de cibernética, de inteligência artificial, da internet e sua relação com a sociedade. Precursor de concepções como inteligência coletiva, ciberespaço, cibercultura e da internet como um instrumento de desenvolvimento social.
É Professor de Ciências Educacionais na Universidade de Paris-Nanterre; do Departamento de Hipermídia da Universidade de Paris-8, em St-Denis, titular da cadeira de pesquisa em inteligência coletiva, na Universidade de Ottawa, no Canadá.
Entrevista:
RIO - A resposta ao pedido de entrevista é direta: “O único jeito é via Twitter”, disse o filósofo francês Pierre Lévy, uma das maiores autoridades do mundo nos estudos da cibercultura. E assim foi feito. Lévy conversou com O GLOBO na tarde de segunda, via Twitter, sobre os protestos que vêm ocorrendo no Brasil nas últimas semanas e que surgiram das redes sociais.
Nos últimos anos, muitos protestos emergiram da internet para as ruas. Como o senhor os compararia com manifestações do passado, como Maio de 1968?
Há uma nova geração de pessoas bem educadas, trabalhadores com conhecimento, usando a internet e que querem suas vozes ouvidas. A identificação com 68 está no fenômeno geracional e na revolução cultural. A diferença é que não são as mesmas ideologias.

Mas qual é a nova ideologia? No Brasil, críticos falam da dificuldade em identificar uma ideologia única nas ruas.
Uma comunicação sem fronteiras, não controlada pela mídia. Uma identidade em rede. Mais inteligência coletiva e transparência. Outro aspecto dessa nova ideologia é o “desenvolvimento humano”: educação, saúde, direitos humanos etc.

E qual seria a solução? Como os governos devem lidar com os protestos?
Lutar com mais força contra a corrupção, ser mais transparente, investir mais em saúde, educação e infraestrutura. Porém, a “solução” não está apenas nas mãos dos governos. Há uma mudança cultural e social “autônoma” em jogo.

No Brasil, um dos problemas é que não há líderes para dialogar. Qual seria a melhor forma de se comunicar com movimentos sem lideranças?
A falta de líderes é um sinal de uma nova maneira de coordenar, em rede. Talvez nós não necessitemos de um líder. Você não deve esperar resultados diretos e imediatos a partir dos protestos. Nem mudanças políticas importantes. O que é importante é uma nova consciência, um choque cultural que terá efeitos a longo prazo na sociedade brasileira.

E as instituições? Elas não são mais necessárias? É possível ter democracia sem instituições?
É claro que precisamos de instituições. A democracia é uma instituição. Mas talvez uma nova Constituição seja uma coisa boa. Porém, sua discussão deve ser ainda mais importante do que o resultado. A revolta brasileira está acima de qualquer evento emocional, social e cultural. É o experimento de uma nova forma de comunicação.

Então, o senhor vê os protestos como o início de um tipo de revolução?
Sim, é claro. Ultrapassou-se uma espécie de limite. Uma consciência surgiu. Mas seus frutos virão a longo prazo.

O que separa a democracia nas comunicações da anarquia? Pode-se desconfiar do que é publicado na mídia, mas o que aparece nas redes sociais é ainda menos confiável.
Você não confia na mídia em geral, você confia em pessoas ou em instituições organizadas. Comunicação autônoma significa que sou eu que decido em quem confiar, e ninguém mais. Eu consigo distinguir a honestidade da manipulação, a opacidade da transparência. Esse é o ponto da nova comunicação na mídia social.

O senhor teme que os governos tentem controlar as redes sociais por causa de protestos como os que ocorrem no Brasil e na Turquia?
Eu não temo nada. É normal que qualquer força social e política tente tirar vantagem da mídia social. Mas é impossível “controlar” a mídia social como se faz com a mídia tradicional. Você só pode “tentar” influenciar tendências de opiniões.

E e o risco de regimes ou ideias totalitaristas ganharem força por conta dos protestos, como já ocorreu no passado na América Latina?
Isso é pouco provável no Brasil, por conta de sua alta taxa de pessoas com educação. A chave é, como sempre, manter a liberdade de expressão, como ela é garantida pela lei. Não é preciso ter essa paranoia com o fascismo


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/pierre-levy-comenta-os-protestos-no-brasil-uma-consciencia-surgiu-seus-frutos-virao-longo-prazo-8809714#ixzz2XqRG0GSo 
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