Joi Ito nasceu em Kyoto, no Japao, e tem 46 anos. Estudou Ciência da Computação e Física, mas não concluiu nenhum dos dois cursos. Possui um longo currículo profissional, tendo sido membro do conselho e presidente do Creative Commons. Atualmente é membro do conselho da Fundação Mozilla, da Knight Foundation, WITNESS, Global Voices e da New York Times Company. Em 2011 foi nomeado diretor do MIT Media Lab, fundado por Nicholas Negroponte e colegas em 1985 e, atualmente, uma das mais conceituadas incubadoras de tecnologia do mundo, uma verdadeira "fábrica de inovação". Também é investidor em start-ups, já tendo apostado suas fichas em mais de 40 empresas como o Twitter, Last.fm e Flickr, dentre outras. Em passagem pelo Brasil, fez uma breve apresentação nesta segunda-feira, na Fundaçao Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, sobre "Inovação em Redes Abertas".
Ele tem uma visão bastante clara do poder que as redes abertas tem no processo de inovação e tem uma percepção dos principais pontos que devem ser observados para garantir que uma destas redes possa, efetivamente, contribuir para o processo de inocação. Os conceitos apresentados por ele se aplicam a redes abertas mas, também, e de forma direta, a redes sociais corporativas. Ele desenvolveu nove princípios:
- Seja resiliente e não force situações (resilience over strenght) - inovação é fundamentalmente um processo de tentativa e erro. Há que estar preparado para errar, e tentar novamente. Não se trata de usar "força bruta", de temer o fracasso. Também não se deve desistir logo no primeiro obstáculo. O erro e o fracasso fazem parte do processo de inovação, assim como tentar novamente. Resiliência é exatamente a capacidade de errar e voltar ao estado original.
- Consuma, e não estoque, conhecimento (pull over push) - um dos principais benefícios das redes sociais é a capacidade de oferecer acesso a um sem número de profissionais, das mais variadas especialidades. Já falamos aqui sobre o fato das redes sociais serem consideradas a mais nova fonte de recursos naturais, o conhecimento. Em redes abertas como o LinkedIn, por exemplo, podemos facilmente localizar aqueles que tem as características mais próximas do que necessitamos. Em redes sociais corporativas, a localização de especialistas é um dos principais benefícios. Joi Ito é muito claro neste ponto. Nestes novos tempos, não faz sentido "estocar" profissionais de todas as categorias para um uso eventual. É muito mais efetivo, no momento necessário, ter acesso aos mesmos. Já discutimos isso aqui anteriormente quando falamos sobre conhecimento compartilhado.
- Assuma riscos, saia da zona de conforto (risk over safety) - Risco faz parte do processo de inovação. É fundamental entender e assumir os riscos associados. Criar mecanismos de proteção para "evitar problemas" é o primeiro passo para matar a inovação. Claro que não devemos assumir riscos desnecessários, sem ao menos estimar seus danos. Mas, ao mesmo tempo, proteger-se em sua zona de conforto não vai ajudar em absolutamente nada.
- Foque no sistema e não nos objetos (system over objects) - É preciso ter uma visão sistemica, ampla. O foco exageradamente pontual elimina a visão periférica. É claro que é importante observar as árvores mas é fundamental ter uma visão clara da floresta. A visão periférica enriquece o processo de inovação ao trazer mais informação.
- Prefira bússolas de qualidade a mapas prontos (compasses over maps) - Mapas estão prontos e podem ser muito bem utilizados para encontrar caminhos. No entanto, com bons instrumentos, como uma bússola de qualidade, se pode ir mais longe e, principalmente a lugares ainda não descobertos. Utilizar conceitos já estudados pode levar a lugares já conhecidos. Pense nisso e lembre-se que somente descobrindo novos caminhos se pode chegar a novos destinos.
- Prefira a prática sobre a teoria (practive over theory) - Experimente, teste, execute. Inovar demanda experimentação. Não tenha receio de errar, como visto anteriormente, é preciso testar e testar seguidamente, sem receio de assumir riscos. A teoria pode dar uma boa base para um projeto mas, ao mesmo tempo, da mesma forma que um mapa, pode limitar o processo de criação.
- Seja mais desobediente e menos comportado (disobedience over compliance) - A inovação é um processo de descoberta, de caminhar por novos rumos. Ninguem jamais inovou "fazendo mais do mesmo". É preciso descobrir novos caminhos e, para isso, é necessário fugir ao comportamento comum, é preciso ser um pouco desobediente. Basta analisar os grandes inventores da história para ver que eles acreditaram em seus sonhos e seguiram seus caminhos mesmo que em muitos momentos tenham tido que desobedecer os princípios vigentes à época.
- Colabore abertamente, sem autoritarismo (emergence over authority) - a redução dos custos de tecnologia na última década e o crescimento da Internet fez com que a troca de informações e a colaboração aconteçam a um custo muito baixo, mudando significativamente o cenário mundial, antes ligado a modelos hierarquicos. Neste novo modelo, a colaboração deve ocorrer em qualquer direção, não necessariamente de cima para baixo ou limitada a um grupo de trabalho ou a um departamento.
- Prefira aprender a ser educado (learning over education) - Este é um ponto interessante, e bastante polêmico, principalmente vindo dele, que abandonou dois cursos superiores (o que, devo ressaltar, ele deixou claro não ser um bom caminho a seguir). Em sua visão, os dois processos, apesar de relacionados, são fundamentalmente diferentes. Ser educado pressupõe assistir a aulas, fazer provas, enfim, remete ao modelo tradicional de educação em sala de aula. Aprender é algo mais amplo, em tese relacionado a busca por respostas, eventualmente com o suporte de um mentor, não de um professor. O aprendizado deve ser algo constante, durante toda a vida. A educação, normalmente, está relacionada a cursos com uma determinada duração.
Joi Ito, além de estudioso, pesquisador e investidor, é uma pessoa profundamente obsecada com o futuro do nosso planeta, em buscar meios para transformar nossa sociedade em uma organização mais justa e equalitária. Para fechar, vejam o vídeo abaixo, "Dare to Imagine", onde ele, junto com outros profissionais, especula sobre nosso futuro.
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