quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Dia das Crianças, fotos antigas e gamification


Desde o final da semana passada vem chamando a atenção o fato de membros do Facebook mudarem suas fotos de perfil para uma foto da infância. O motivo, é claro, é a proximidade do Dia das Crianças no Brasil. O interessante, no entano, é que este movimento começou naturalmente, sem uma liderança explícita. Também não faz parte de nenhuma campanha de marketing. Simplesmente aconteceu, e viralizou. O ponto aqui é que este simples movimento gerou novas "curtidas", comentários e compartilhamentos. No final do dia, mais usuários estão ativos e participando de outras discussões na rede. Este comportamento característico das redes sociais pode ser usado para explicar o que é gamification.

Teoria de Jogos

Gamification nada mais é do que a aplicação de conceitos e tecnologias de jogos, nas redes sociais (corporativas ou abertas). O exemplo mais claro é o Foursquare, onde usuários são premiados com "títulos" de acordo com o que conquistam. Ou seja, se você vai muito a um determinado restaurante, pode virar o "prefeito" dele. E por aí vai.

No fundo, gamification tem a ver com o conceito de Behavior Roadmap, algo que é estudado pela sociologia faz muito tempo. A idéia é simples e consiste em definir um conjunto de ações que devem ser cumpridas por uma pessoa para que um objetivo seja atingido. Uma vez que temos um objetivo claro, definimos um roadmap de ações. Para que uma pessoa siga o plano de ações, são oferecidas recompensas a cada passo cumprido. Esta é a idéia do jogo.

Jogos nas empresas

No mundo corporativo este conceito vem ganhando força uma vez que é uma forma lúdica de incentivar profissionais a atingir objetivos, relacionados com a estratégia da empresa. O desenvolvimento destes roadmaps é algo que deve ser feito em conjunto pela unidade interessada, que vai determinar os objetivos a serem alcançados e em que prazo, e pela área de Recursos Humanos, já que tem a ver com carreira, incentivos e remuneração. O resultado final é um plano de trabalho que será implementado e acompanhado rigorosamente para garantir que os objetivos traçados estão sendo alcançados.

Um exemplo bem comum é o uso deste tipo de metodologia para acelerar o onboarding de um novo profissional, que é tempo que um novo contratado demora desde seu primeiro dia até começar a gerar valor para a empresa. Para isso, define-se cada passo que deve ser cumprido, como obtenção de um crachá, de um notebook, de um ramal telefônico, preenchimento de seu perfil na rede social da empresa, escolha de uma fotografia pessoal para aparecer em seu perfil e por aí vai.

Outro exemplo é quando queremos fazer com que o time de vendas alcance seus objetivos. Para isso, as metas são traduzidas em objetivos intermediários e devidamente registrados. A partir deste momento, os vendedores podem seguir os direcionamentos e conquistar resompensas que podem variar de um simples badge virtual até um jantar com a família ou algum prêmio em dinheiro.

Gamification ajuda em uma das fases mais complexas de um projeto de Social Business, a adoção. Para ficar mais clara sua importância, vou usar um exemplo que sempre dou em minhas palestras. Quando trabalhamos com um projeto de uma solução de ERP, normalmente, sua implementação é Top-Down. Ou seja, se sua função passou a ser realizada com o suporte do novo sistema, você precisa utilizá-lo. Simplesmente não existe a opção de continuar a fazer o que você fazia, da mesma forma. Já em um projeto de Social Business, com grande cunho colaborativo, não é possível obrigar pessoas a colaborar. Não dá para chegar para seus funcionários e dizer "a partir de hoje todos tem que colaborar três vezes por dia". Simples assim.

Fornecedores

Algumas empresas de desenvolvimento de software oferece soluções bastante interessantes para implementar um mecanismo de Gamification. Se você está usando o IBM Connections para sua Rede Social Corporativa, pode contar com a Bunchball ou com a BadgeVille, por exemplo.

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Bom, voltando ao início do post, já coloquei no Facebook minha foto preferida da infância. Em pouco tempo recebi algumas dezenas de curtidas e muitos comentários. Divertido, como deve ser, e gerando tráfego, objetivo principal.

Ainda bem que não se comemora Halloween no Brasil... imagina as fotos que iriam aparecer!!!

domingo, 6 de outubro de 2013

Na incubadora - os primeiros passos de uma Rede Social Corporativa


Estou participando, neste momento, de três projetos de Redes Sociais Corporativas (RSC), de empresas de indústrias distintas (Oil & Gas, Governo e Utilities) e com número de usuários diferentes. Além disso, dois já estão em produção e um ainda em fase de planejamento. Em comum, todos estão apenas no início de uma longa jornada. Como gosto de dizer, todos os três estão na "incubadora" e demandam atenção e cuidados especiais até que possam "caminhar sozinhos". É uma fase crítica de um grande projeto que não está apenas limitado a tecnologia, mas a gestão de mudança e governança. Alguns pontos são comuns a todo projeto de Social Business, independente de indústria e do número de usuários. Quais são eles? Preparei uma pequena relação de alguns tópicos a serem cuidadosamente tratados neste período. Vamos a eles.

Tecnologia

Finalmente chegou o grande dia. Depois de meses de cuidadoso planejamento, o projeto ganha vida. O Go Live de uma RSC é sempre aguardado com muita ansiedade. Será um sucesso? Vai viralizar? Todo o planejamento de infraestrutura foi feito para suportar momentos de pico e o lançamento costuma ser um deles. Um grande número de usuários acessa a rede nos primeiros dias já colocando à prova todo o dimensionamento feito.

Desnecessário dizer que a escolha da tecnologia é um dos passos mais importantes. Ela tem que integrar com sua arquitetura de sistemas, tem que suportar seus padrões de segurança e tem que estar preparada para escalar, quando necessário.

Nos primeiros meses é fundamental monitorar a carga na infraestrutura para validar os estudos feitos durante o projeto. É neste momento em que veremos se os servidores foram dimensionados corretamente e se a rede está preparada para performar de acordo com os padrões estipulados no projeto.

O exemplo da liderança executiva

Uma mensagem enviada para toda a empresa, pelos principais executivos da empresa, ressaltando a importancia do projeto faz grande diferença. É importante que o conteúdo da mensagem seja claro, informando o que é o projeto, quais são seus objetivos e o que é esperado de cada um em termos de comportamento e contribuição.

A mensagem pode ser um simples panfleto, uma circular, um email ou um vídeo. O importante aqui é deixar claro que a liderança da empresa entende e suporta o projeto como sendo algo corporativo. Isso é feito regularmente na IBM, para educar e incentivar o uso da plataforma de colaboração.

O "exemplo" que vem de fora

A grande maioria dos profissionais, hoje, no Brasil, tem conta em pelo menos uma Rede Social aberta como no Facebook. E isto é, ao mesmo tempo, um facilitador e um complicador para o projeto. 

Ajuda, no sentido de que o conceito de uma rede social é mais facilmente compreendido pelos funcionários e contribui para um entendimento mais claro sobre o projeto e seus objetivos. Também faz com que não seja necessário um grande investimento em treinamento. Ele é necessário, sim, mas pode se dedicar a abordar pontos mais avançados.

Ao mesmo tempo, atrapalha, pois o profissional acaba trazendo para a RSC um comportamento que não é exatamente o esperado e desejado. Junto com o conhecimento, alguns vícios também vem "no pacote". No Facebook, por exemplo, ele compartilha fotografias de eventos sociais, de restaurantes e até piadas. Em uma RSC o comportamento desejado está mais associado com Colaboração. Para isso, é preciso entender que estamos trabalhando com conhecimento coletivo com foco no business da empresa. Não estou dizendo que uma RSC não possa ser utilizada para compartilhar experiências pessoais. Este tipo de postagem pode até mesmo facilitar a adesão dos colaboradores. O que não pode é ser o foco principal.

Além disso, não são muitos aqueles que mantém blogs ou wikis, duas importantes ferramentas de colaboração. O pleno entendimento de como usá-los precisa ser ensinado. Muito provavelmente o time do projeto entende seu uso e valor, mas será que a grande maioria dos funcionários sabe o que é e para que serve um Wiki? O exemplo de uso do Facebook não ajuda em nada aqui e um cuidado especial deve ser dado para ensinar o que são estas ferramentas e como devem ser utilizadas.

O projeto é da empresa

Já vimos aqui em outros posts que o projeto de uma RSC é da empresa como um todo e não somente da área de Tecnologia (ou de qualquer outra área). Cada área tem seu papel e deve desempenhá-lo adequadamente para garantir que o projeto seja um sucesso. Cabe a unidade demandante "dar alma" ao projeto, ligando-o aos objetivos de negócio da empresa. É aí que nascem as primeiras "iniciativas de valor", que permeiam a empresa e que, no final do dia, vão fazer com que os usuários usem a rede. 

Cabe a área de Tecnologia "dar cara" ao projeto, implementando-o de acordo com altos parâmetros de qualidade e devidamente em linha com a arquitetura de sistemas da empresa. Este é um projeto complexo, que envolve desde integração com outros sistemas até gestão de mudança. Por isso, deve ser liderado por uma equipe composta por profissionais experientes e com visão estratégica. 

Adoção

Em hipótese alguma o projeto deve ser tratado como algo simples e nunca deve-se supor que, por ser uma RSC, vai "viralizar" e ser facilmente adotado por todos. As motivações de uma rede social aberta e de uma RSC são distintas e técnicas de adoção devem ser implementadas para que todos entendam o real valor da rede.

Cabe ao time do projeto prepar um plano de adoção, composto por ações de comunicação, por exemplo, para divulgar a RSC entre os profissionais. Eventos especiais também podem ser programados, como no caso da empresa de Oil & Gas, que recentemente fez aniversário, e no Natal. Que tal usar a rede para compartilhar o orgulho de fazer parte da empresa e para comemorar datas especiais? 

Todas estas ações tem um grande impacto no engajamento dos funcionários e ajuda a fortalecer a cultura ao criar um ambiente de trabalho mais inclusivo, aberto e transparente. No fim do dia, contribui para criar uma reputação extremamente positiva para a empresa e seus funcionários.

A jornada é longa e, nos três projetos, certamente enfrentaremos surpresas boas e ruins. A liderança executiva e a transparência nos objetivos do projeto seguramente contribuirão para seu sucesso.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

IBM e Boston Children's Hospital anunciam nova plataforma social

A IBM e o Boston Children's Hospital anunciaram, na semana passada, a primeira solução médica global totalmente baseada em nuvem com o objetivo de suportar pediatras em qualquer lugar do planeta. A plataforma, baseada no IBM Connections, pode transformar definitivamente a forma como a pediatria é educada e praticada em todo o mundo e tem como objetivo melhorar o compartilhamento de informações médicas e o tratamento de crianças, sem importar onde estejam. A plataforma, batizada de OPENPediatrics, permite que médicos e enfermeiras tenham rápido acesso informações que podem salvar a vida de crianças. O ambiente já é utilizado por médicos em 78 paises e recebe novas adesões a cada dia.

OPENPediatrics é uma solução completamente baseada em nuvem. Ela foi desenvolvida pelo laboratório da IBM em Cambridge, Mass., e permite o treinamento de profissionais da área da saúde de forma interativa e, mais importante, o compartilhamento de informações que tem o poder de salvar vidas. A solução oferece:
  1. Uma rede social, que conecta pediatras em todo o mundo e que permite o compartilhamento de idéias e melhores práticas
  2. Literatura e curriculos online, que permite a localização rápida de especialistas em diversas áreas do conhecimento.
  3. Treinamentos gravados em vídeos
  4. Experiências interativas que permitem a simulação de situações e o treinamento de profissionais em ambientes virtuais.
A solução foi desenvolvida com o objetivo de ser utilizada tanto online quanto offline, permitindo que médicos levem consigo informações, mesmo que não estejam conectados diretamente ao hospital.


É a IBM, em parceria com o Boston Children's Hospital, oferecendo uma solução inovadora que tem o poder de mudar o mundo e salvar vidas.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

"The more I dig into his secrets, the deeper he'll bury them..." - Pais e filhos nas redes sociais


"The more I dig into his secrets, the deeper he'll bury them...". Esta frase poderia ter sido dita por qualquer mãe brasileira preocupada com a vida de seu filho e reflete uma das principais questões feitas por pais diariamente. Afinal, pais devem ou não fazer parte das redes sociais de seus filhos? Devem ou não espionar seus filhos navegando por suas contas em redes sociais? A frase partiu de uma mãe preocupada com seu filho, ambos chineses, moradores de Beijing e faz parte de uma matéria publicada no jornal "China Daily" tratando sobre a mesma preocupação que temos no nosso dia-a-dia.

Como vimos nos últimos posts (Redes Sociais na China, Parte 1 e Redes Sociais na China, Parte 2), a vida nas redes sociais na China é intensa, com centenas de milhões de pessoas compartilhando momentos, fotos e pensamentos, junto com angústias, preocupações e devaneios. 

No entanto, na China, a educação é ainda muito conservadora e os mais jovens são orientados, desde cedo, a acatar a ascendência dos pais sobre os filhos e a ficar calados na presença dos parentes mais velhos. Além disso, a grande maioria das famílias tem apenas um filho e os pais dedicam enorme esforço para a educação dos mesmos. A separação, quando os filhos vão estudar em outras cidades ou trabalhar fora, é dura e as redes sociais são um elo cada vez mais explorado. E, neste cenário, o choque entre as gerações mais novas e seus pais é simplesmente inevitável. 

Os Milleliums Chineses

A nova geração de milleniums chineses, por exemplo, é ávida usuária do WeChat, (já são mais de 300 milhões de usuários deste aplicativo) e compartilha sua vida pessoal com seus amigos abertamente. Mais e mais pais tem encontrado, nas redes sociais, a forma de estar mais próximos de seus filhos. No entanto, muitos não se sentem confortáveis ao saber que seus pais espionam suas vidas e acabam mudando seu comportamento. "Now I just don't post things she doesn't want to see or things I don't want her to see", disse um dos jovens entrevistados. 

Especialistas afirmam que a qualidade do relacionamento online entre pais e filhos reflete o mundo real. Ou seja, quanto mais aberta é a relação no dia-a-dia, melhor serão as interações nas redes sociais. Quando praticamente não existe diálogo entre pais e filhos sobre preocupações e desafios da vida, menos provável que no mundo online eles sejam realmente "amigos". "Alguns pais acreditam que o simples fato de serem pais lhes dá o direito de espionar seus filhos online", disse um psicologo da Beijing United Hospital and Clinics... "Por que não desenvolver a confiança no relacionamento com os filhos desde o início?".

Os jovens chineses tem adotado várias técnicas para sair da "saia justa" de recusar um convite de amizade vindo de seus pais. Uma das mais comuns é criar um perfil somente para a família e compartilhar assuntos triviais, que não criam conflitos. 


O que os especialistas dizem a respeito do relacionamento entre pais e filhos online? Vejam alguns comentários:

  1. Mantenha limites - Esteja presente mas não seja exageradamente intrusivo. Existem limites para os comentários e para a publicação de fotos - Sarah Coine, professora associada, Brigham Young University
  2. Use com moderação - As redes sociais são uma boa forma de manter contato, mas lembre-se das outras formas de interação presenciais - Zhang Zhongshan, professor senior, Songjiang Teacher's Training College
  3. Respeite o espaço de seus filhos - O melhor presente que podemos dar a nossos filhos é a capacidade de pensamento crítico e e de fazer julgamentos por conta própria. Não vamos ensinar isto mantendo-os sob controle o tempo todo. Deixe-os experimentar e entender as implicações de cada movimento - Pamela Brown, diretora, Media Psycnology Resarch Center
  4. Não espione mensagens privadas - Deixe que eles tenham seus espaços e os respeite - Rob Blinn, psicologista clínico, Beijing United Hospital and Clinics
  5. Demonstre amor e carinho ao mesmo tempo em que define as regras - Participe da vida de seus filhos, mas deixe espaço para que eles descubram seus próprios caminhos - Sarita Yardi, professora assistente, School of Information at University of Michigan
Definitivamente, a relação dos pais com seus filhos no mundo das redes sociais está longe de ser uma questão fácil de ser respondida. É uma preocupação universal, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e, da mesma forma, na China. 

Foi-se o tempo em que se poderia pensar na existência de uma Cïdade Proibida. Na Internet, e na vida real, cada vez mais estes muros vem caindo e se abrindo. Cabe a cada família construir sua relação, tanto no mundo real quanto no mundo online, com base no respeito e na confiança.

sábado, 21 de setembro de 2013

A Viagem Social


Nas últimas quatro semanas vivi uma experiência realmente única, tanto profissional como pessoal. Participei do IBM Corporate Sercices Corp, uma designação internacional da IBM, na cidade de Yin Chuan, no interior da China. Foram semanas extremamente ricas, durante as quais convivi com profissionais da IBM de 7 países diferentes, com um cliente Chines buscando por recomendações para crescer nos mercados doméstico e internacional e compartilhando de uma cultura milenar, de uma história fantástica. Além de tudo isso, experimentei a força das redes sociais, tanto as que estamos acostumados a utilizar como as que são usadas na China, já assunto de outros posts. Desta vez, compartilho alguns pensamentos sobre o poder das redes sociais e sua influência em nossa vida, como em uma viagem como essa, longe da família e de amigos por mais de 30 dias. Meu foco principal será no que vou chamar de "três dimensões": distância, companhia e memórias.

Distância

Mais de duas décadas se passaram desde a última vez em que estive longe da minha família e dos amigos por tanto tempo. Estavamos no meio da década de 80 quando trabalhei na Siemens em Munique por três longos meses. Lembrando daquele longínquo inverno alemão, me recordo que tinha a nítida impressão de que estava muito longe de casa, literalmente em outro país, em outro continente. A distância se traduzia em duas semanas, que era o tempo necessário para um cartão postal chegar no Brasil. Quando o destinatário as lia, já não eram mais frescas, nem eram mais notícias, apenas registros de algo que havia acontecido há duas semanas. Exatamente por isso, a forma como as cartas eram escritas era diferente. Não diziamos "acabei de chegar da mesquita da cidade" ou "vejam só que dia lindo está fazendo em Munique"... isso não faria muito sentido para os destinatários.

Na China, compartilhava momentos instantaneamente utilizando o Instagram e, quando chegava ao hotel à noite, uma das primeiras coisas que fazia era atualizar o Facebook. A distância havia se reduzido de duas semanas para apenas alguns minutos ou, no pior dos casos, algumas horas. Os principais fatos do dia, fotografias, momentos, eram compartilhados quase que em tempo real. Era como se todos estivessemos viajando juntos. Era como se o estado de Ninxia, próximo a Mongólia Interior, ao sul da Mongólia, fosse a alguns kilômetros do Rio de Janeiro e não tão distante como parecia no jogo de War.

Toda esta tecnologia, transparente para todos, fez com que Yin Chuan se parecesse com um bairro do Rio de Janeiro.

Companhia

Na alemanha, apesar da companhia dos amigos que fiz, vivia sozinho. Não havia como me comunicar facilmente nem com eles nem com minha família e amigos no Brasil pois os telefones celulares ainda eram sonhos de laboratório ou assuntos para filmes de ficção científica. Usava muito o telefone público, que custava 5 marcos alemães por minuto e me obrigava a carregar muitas moedas cada vez que desejava fazer uma ligação de 5 ou 10 minutos. Era muito ruim chegar ao quarto, a noite, pois não havia muito o que fazer. Para diminuir a solidão, escrevia cartas e cartões postais, que demorariam muito para chegar ao Brasil, ou lia livros que havia levado comigo

Em Yin Chuan, a impressão que tive é que todos estavam muito próximos e isso ajudou muito para que o tempo passasse tão rapidamente. Conversava com amigos e com a família pelo menos duas ou três vezes ao dia e os sentia próximos, muito próximos. Para mim, era como se estivessem compartilhando de tudo o que eu vivia, tal a facilidade com que nos comunicavamos. Compartilhava pelo Facebook momentos viviidos durante o dia e recebia cada comentário com tanta alegria que parecia que estava conversando com alguem. Eu tinha companhia mesmo quando estava em meu quarto, sozinho. 

Além disso, tecnologias de comunicação baseadas em IP, como o Skype, me permitiam falar a qualquer hora, com qualquer pessoa, com vídeo, a custo zero.

As redes sociais tem o poder de reduzir distâncias e de aproximar pessoas. Algo inimaginável há apenas 5 anos.

Memórias

AInda guardo com carinho cartas, cartões postais, bilhetes e anotações daquela viagem a alemanha em 1986. São papeis, hoje amarelados, onde experiências pessoais e profissionais eram anotadas com todo cuidado. Dizem que "recordar é viver" e, cada vez que as vejo, lembro muito daqueles dias, dos momentos vividos longe de casa. Esta é uma grande verdade, realmente "recordar é viver"..

Fico imaginando como me recordarei desta viagem daquia a vinte anos. Será que o Facebook ainda vai existir? Veremos "páginas online amareladas"? Onde estarão todos estes momentos que foram compartilhados com tanto carinho? Em fotos digitais? Hoje não consigo ler um disquete de 5 1/4 polegadas que foi gravado há 15 anos. Será que teremos acesso a todas estas memórias daqui há 10 ou 15 anos?

Difícil dizer, muito complicado fazer previsões, "principalmente sobre o futuro", mas algo é certo. Nunca mais chegaremos em casa e ouviremos uma pergunta como essa: 

"Como foi a viagem, pai? Conta tudo!"

Como assim, você não viu o que eu coloquei no Facebook?

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Redes Sociais na China, Parte 2: Baidu, Weibo e Taobao

Em meu último dia na China, decidi almoçar em um restaurante em um hutong, em Beijing. Estas áreas urbanas tem quase mil anos e inicialmente tinham como finalidade ser a residencia de habitantes da cidade. Atualmente, no entanto, o comércio é amplamente explorado para atender as hordas de turistas que visitam estas estreitas ruas diariamente. Esta era a segunda vez que eu visitava um hutong e, para minha surpresa, a região estava quase deserta, não fosse a presença de alguns idosos que se dedicavam a jogar xiangqi, o xadrez chinês e a fumar seus cigarros. 

Lá estava eu, tranquilamente almoçando, quando chega um entregador de pacotes. O garçom abriu cuidadosamente uma caixa na mesa ao meu lado. Era uma caixa normal, de papelão, como as que estamos acostumados a receber quando compramos online. Lá dentro, depois de remover alguns kilometros de plástico bolha, três livros chineses. Detalhe, o entregador usava um camisa roxa onde se lia claramente, "Amazon.cn". Dezenas de milhões de chineses utilizam a Internet diariamente para comprar absolutamente de tudo um pouco, desde livros até equipamentos eletrônicos, remédios, produtos alimentícios e tudo mais que se possa imaginar. E como comprar online na China?

Taobao

Taobao é a plataforma para compras online mais popular no país. Fundada em 2003 pelo grupo Alibaba, com foco em C2C (Consumer to Consumer) em dois anos já era a principal plataforma de compra e venda online no país. Números atuais (não oficiais) apontam para mais de 500 milhões de usuários registrados e mais de um bilhão de produtos disponíveis. É comparável em funcionalidade a Amazon.com e ao Mercado Livre. O Taobao funciona como um Marketplace onde qualquer um pode colocar produtos a venda, tanto novos como usados, e os vendedores podem ser avaliados pelos compradores, algo muito valorizado pelos usuários do site. 

Com o Taobao, se você tem um pequeno comércio, pode abrir a sua loja online e alcançar centenas de milhões de potenciais compradores instantaneamente. A empresa também incorporou uma ferramenta de chat para permitir a comunicação entre vendedores e compradores onde é possível esclarecer dúvidas e adicionar detalhes sobre a compra. No Taobao também se pode vender diretamente ou via leilões, mas pelo que entendi não são muito populares por aqui.

TMall

Poucos anos depois, em 2008, a empresa fundou o Talbao Mall, agora com o objetivo de oferecer uma plataforma B2C (Business to consumer). Da mesma forma que em outros países, muitas vezes é mais fácil encontrar produtos online do que em lojas físicas. Durante minha estada quis comprar alguns ítens online, como a camisa de um clube de futebol da China. Visitei o site do clube, muito bem feito, diga-se de passagem, e, quando você entra na área de compras online é direcionado para a página do clube no TMall, diretamente, sem dificuldade alguma. Já no TMall, você pode obter informações adicionais sobre o produto desejado e concluir a transação. No caso da camisa do clube, vai ficar para a próxima pois o produto estava sold-out (o clube é o atual campeão chines e a procura deve estar em alta). Aproveitei para comprar outros ítens, confesso que mais para testar o processo, e me surpreendi positivamente com uma entrega em apenas dois dias.


Alibaba x Tencent

Segundo estudos da McKinsey, o comércio eletrônico na China vai movimentar aproximadamente US$ 395 bilhões em 2015. O Grupo Alibaba esta pronto para fazer seu IPO e as estimativas apontam para um valor inicial de cerca de US$ 105 bilhões.

Ma engana-se quem pensa que este enorme mercado online chines goza do equilíbrio e da paz típicas dos mosteiros tibetanos. Ele vem atraindo fortes players e causando, nos bastidores, uma enorme guerra entre dois dos principais grupos online do país, o Alibaba (comércio eletrônico)  e a Tencent (redes sociais, comunicação e portal online). Como vimos no post anterior, a Tencent é a fundadora do QQ e do WeChat e é extremamente poderosa nas redes sociais. Com mais de 300 milhões de usuários no WeChat, a Tencent vem tentando obter participação nas transações online, terreno dominado pelo Alibaba. E a briga entre os dois é pesada. No início do mês passado o grupo Alibabá proibiu seus usuários de efetuar pagamentos utilizando a recem anunciada plataforma de pagamentos via WeChat. A justificativa foi que alguns usuários do Taobao estavam finalizando suas transações pelo WeChat para evitar o pagamento da comissão devida ao grupo. A briga promete continuar, na medida que os dois grupos vem tentando ganhar mais espaço nas transações financeiras na China.

Um pouco mais sobre as Redes Sociais

Além redes apresentadas no último post, como o RenRen, o QQ e o WeChat, e das plataformas de comércio eletrônico, na China ainda temos os equivalentes ao Google e ao Twitter. 

Baidu

O Baidu é o correspondente local do Google. Tem uma interface similar e funciona da mesma forma. Não sei dizer se os algorítmos de pesquisa são equivalentes, mas pelo que percebi funciona da mesma forma e oferece as mesmas funcionalidades de busca avançada. É fácil de usar e bem intuitivo para quem já usa o Google.
Weibo

O Weibo é o twitter local e, da mesma forma que seu similar ocidental, permite o compartilhamento de informações com até 140 caracteres. 


Concluindo

As Redes Sociais na China são uma potencia e são frequentadas diariamente por centenas de milhões de chineses que as usam para simplesmente tudo. Atualmente, o WeChat é o grande destaque e vem crescendo muito. A disputa pela liderança é forte pois o tamanho do mercado é enorme. Vamos acompanhar os próximos capítulos.a

domingo, 8 de setembro de 2013

Redes Sociais na China, Parte 1: QQ, WeChat e RenRen

Quando falamos sobre Redes Sociais sempre nos remetemos ao Facebook, Instagram, LinkedIn e outras mais. No entanto, quando o assunto é a China fica sempre aquela pergunta... "e na China, também usam o Facebook?" Dediquei parte da minha experiência no país para conhecer um pouco mais sobre quais são as redes sociais mais usadas por aqui e como elas são utilizadas. Conversei com estudantes e com pessoas no meu cliente. Li artigos publicados em sites especializados e, claro, me registrei nas principais redes. Este é o primeiro post de dois em que pretendo abordar um pouco mais sobre o tema. Claro que não sou um grande especialista em nenhuma das redes chinesas mas minha idéia é tentar comparar o que é usado na China com o que usamos.

QQ

A China tem a maior população do planeta. São mais de 1.3 bilhão de pessoas e, seguramente, um dia serão a maior população online. As redes sociais já estão por aqui há algum tempo. Talvez a primeira delas tenha sido a QQ.com, que começou como um provedor de serviços na Internet e foi ampliando sua área de atuação. Atualmente oferece notícias, jogos online e muito mais. E, por ter sido a primeira, tem o maior número de usuários. Em março deste ano já tinha quase 800 milhões de usuários cadastrados, segundo relatório trimestral de resultados da empresa, liberado em 20 de março deste ano (existem divergências sobre os números reais, da mesma forma que existem discussões sobre o real número de usuários ativos do Facebook e, portanto, optei por usar os números no relatório anual da empresa).

O QQ tem uma versão "internacional". Com ela é possível ter acesso a notícias, jogos, email, compras e até mesmo compartilhar fotos, de qualquer lugar do mundo, utilizando uma interface em inglês, francês, alemão ou espanhol, além do chinês. Além disso, claro, você pode conversar com seus amigos online. Se o serviço já conta com 800 milhões de cadastrados, chance grande de seus amigos estarem entre eles.

Aplicativo QQ para Windows
O QQ tem várias funcionalidades interessantes como, por exemplo, o Instaviewer, que funciona como um visualizador para o Instagram.

InstaViewer, integrado com o Instagram para visualização de posts
QQ News
WeChat

Com o crescimento do uso de smartphones, a Tencent, criadora do QQ, lançou em janeiro de 2011 o WeChat, que já tem mais de 300 milhões de usuários. O aplicativo, voltado para dispositivos móveis, é bastante parecido com o WhatsApp e é usado para envio de mensagens de texto ou de voz. Ele tem como alvo o mercado internacional, mas é muito usado por aqui uma vez que qualquer usuário do QQ pode ter uma conta. Ou seja, dos 800 milhões, muitos já utilizam o WeChat em seus dispositivos móveis. Para o mercado internacional, a empresa contratou Messi como "garoto propaganda".

Relação de conversas (chats)

Espaço para compartilhar fotos, mensagens, etc
Da mesma forma que no WhatsApp, você pode enviar mensagens de texto para amigos e, se preferir, mandar uma mensagem de voz. Ou seja, usando um smartphone, não precisa ficar digitando a mensagem, basta pressionar um botão e começar a falar. A mensagem é gravada e enviada. Também é possível enviar fotos, usar emoticons e muito mais.

Basta pressionar o botão na parte inferior do app
e gravar uma mensagem para ser enviada para seu amigo

RenRen

Outra força das Redes Sociais na China é o RenRen, também conhecido como o "Facebook da China" pela aparência na interface e na funcionalidade. Fundado em 2002 com o nome de Xiaonei (isso mesmo, antes do Facebook, mas com outras funcionalidades), em 2009 foi rebatizado para RenRen que, em uma tradução livre, significa "de todos". É simples de utilizar e bem intuitivo, mesmo para quem não entende uma simples palavra de chinês. E, claro, com a ajuda de um tradutor online fica tudo mais fácil. 

Funciona como o FB, você constroi sua rede de amigos e compartilha atualizações de estado, fotos, filmes, etc. Achei bacana que você pode ditar uma atualização de estado... o RenRen reconhece o que você fala e escreve o post. Sim, eu testei essa funcionalidade! Usei um app que tenho no iPhone que fala frases básicas em chinês para o teste. E depois verifiquei no tradutor online. Funcionou direitinho. 

Microfone ativado para reconhecimento de voz enquanto você dita uma atualização de status
Outra funcionalidade que achei bem interessante é um player de música embutido. Você pode ativar e ouvir músicas selecionadas aleatoriamente ou, se preferir, escolher um estilo musical qualquer. O legal é que você ainda pode compartilhar com os seus amigos as suas preferências musicais. 

Ren Ren Music Player
De resto, é bem parecido com o FB. Interessante é que algumas pessoas com quem conversei comentaram que este é um serviço "antigo", em decadência. Outras redes, como o QQ Int e o WeChat vem ganhando popularidade a passos largos.


No próximo post, quem é o Twitter da China? E o YouTube? E vou falar um pouco sobre comércio eletrônico... Amazon na China? Google?